Roth no seu melhor
A Cecília Andrade, editora da Dom Quixote, tem vindo a publicar a obra de Philip Roth, alternando títulos mais recentes com títulos mais antigos. Aconselho quem goste deste autor a não falhar nenhum e, podendo, começar pelo princípio e ir desbastando a lista. Mas, como não tive essa sorte, falo-vos agora de um romance dos anos 1980, A Lição de Anatomia (com excelente tradução de Francisco Agarez), que saiu recentemente e é para mim um dos melhores e mais divertidos. Inclui – como outros – o alter-ego de Roth como protagonista, o escritor judeu Nathan Zuckerman que, no início do livro, está morto com dores no pescoço e nos ombros há ano e meio, passou por médicos e tratamentos sem fim mas não sente melhoras, tem quatro mulheres a tratarem dele (em todos os sentidos, sobretudo naquele em que não estavam a pensar, tendo em conta que é um doente) e está viciado em analgésicos, vodka e marijuana, a única forma de conseguir alhear-se da dor. Mas, como perceberemos ao longo de muitas peripécias, Nathan tem outros problemas que se prendem com a morte dos pais (que nunca lhe perdoaram certas coisas que escreveu), a página em branco, os críticos literários pouco simpáticos e a saudade de ter amigos e uma ideia de futuro, pelo que decide, aos 40 anos, deixar de escrever e ir tirar medicina para a Universidade de Chicago, onde em jovem estudou literatura… Vale a pena ler o que acontece, claro, mas prepare-se para muito desaforo, muito sexo (dito e feito) e muito descalabro até ao final, sobretudo quando Nathan encontra uma personagem digna da melhor ficção e lhe veste a pele. Um livro que é mesmo à Roth.