Sardinhas
Entre o fado, o futebol e Fátima – três coisas que ao longo de muito tempo foram tomadas como as mais ilustrativas de Portugal – não podemos ignorar as belas das sardinhas; e elas estão por todo o lado, metem-se até em negócios de livros, como se verá por esta história deliciosa que uma colega editora (por acaso, também Rosário, mas Araújo) me contou recentemente durante um almoço na cantina. Não sei se já ouviram falar de Adolfo Simões Muller, um homem que devotou grande parte da sua vida à divulgação da literatura juvenil e da banda desenhada e foi responsável por vários fanzines e revistas (O Papagaio ou o Cavaleiro Andante, por exemplo) onde publicava muitos autores estrangeiros. Pois foi também ele que começou a publicar as histórias do Tintim em Portugal há muitos anos. E, numa entrevista que deu ao Jornal de Letras pouco antes da sua morte, quando o jornalista lhe perguntou como pagava os direitos de autor ao grande Hergé, a resposta foi a mais inesperada possível: «Em sardinhas de conserva!» Estranho, não? Mas tem uma explicação interessante: tudo isto se passava no início dos anos 40, durante a Segunda Guerra Mundial; e, ao que parece, Hergé tinha um irmão que fora feito prisioneiro dos alemães e estava num campo. Então, a mulher de Simões Muller comprava as latas de sardinhas e mandava-as para o campo através da Cruz Vermelha... Mais tarde, Simões Muller conheceu Hergé e ficaram amigos. Quem diria que alguns autores preferiam receber em géneros, hã?