Troca por troca
Embora nunca tenha sido exactamente uma apreciadora do género (há, claro, excepções), sou de uma geração que assistiu a um boom de livros de ficção científica. Era o tempo em que se imaginavam mundos alternativos, vida extraterrestre, viagens a Marte, robots que nos livrassem das tarefas domésticas, guerras interplanetárias. E mais: telefones sem fios nos quais fosse possível ver o rosto de quem nos ligava, telecomunicações rápidas entre quaisquer países, envio instantâneo de imagens... Ora, muito do que lemos nesses livros proféticos já aconteceu, e o avanço tecnológico das últimas décadas frustrou, de certo modo, a criatividade dos autores que inventavam universos sofisticados e marcianos verdes. Ficou, de súbito, difícil falar do futuro, quando o futuro nos surge todos os dias em pequenas invenções que, há quarenta anos, pareciam apenas possíveis na imaginação de certos escritores. Em todo o caso, os leitores estavam precisados de se consolarem com outros mundos que não este – e foi talvez por isso que vingou um género literário que hoje tem muitos seguidores, a chamada Fantasia, que, ora recriando o passado, ora projectando um futuro no qual os humanos convivem com estranhas criaturas, oferece uma dose respeitável de magia a quem dela precisa. Continuo a não ser apreciadora, mas admito que estas sagas são um óptimo negócio.