Um susto
Contaram-me não há muito tempo uma história que assusta qualquer um. Numa escola de Música do Norte do País, de nível superior ainda por cima, o professor deu a ouvir aos alunos de determinado instrumento obras de compositores do século XVII, e uma rapariga alegou ser impossível que as peças escutadas fossem dessa época pois na altura não existiam meios para as gravar e fazer discos... Desconheço o que fazia ela numa escola superior de Música, mas este ano nas Correntes d’Escritas participou numa das mesas do encontro um dos membros do colectivo Vozes da Rádio que contou um episódio semelhante. Estando alguns estudantes de música a ensaiar num teatro uma peça de António Pinho Vargas, este resolveu aparecer para ouvir a sua prestação; e, quando entrou no palco e disse quem era, um dos alunos deu simplesmente um grito. Querendo saber porque provocara a sua presença tal reacção, Pinho Vargas certamente não contava com a resposta do rapaz: “Desculpe, mas é que os compositores costumam estar mortos.” Tem graça, mas se calhar é mais sério do que cómico.