Uma questão de honra
Nas últimas Correntes d'Escritas, Javier Cercas, o romancista espanhol que venceu o prémio literário atribuído anualmente naquele certame com a sua obra As Leis da Fronteira, contou uma deliciosa história quando foi ao palco receber o galardão, tudo por causa das falsas modéstias. Ao que parece, o grande Miguel de Unamuno foi receptor de uma condecoração muito importante por parte de Sua Majestade o rei Afonso XIII. E, no momento em que fez o discurso de agradecimento, disse com todas as letras que se sentia honrado com aquela medalha que tanto merecia e ainda bem que lha estavam a dar. Parece que o rei conhecia razovalmente Unamuno e que, por isso, não estranhou por aí além as suas palavras; mesmo assim, não resistiu a perguntar-lhe porque reagia daquela forma um pouco sobranceira, afirmando que o prémio era merecido. Por ser verdade, explicou Unamuno. E, quando Afonso XIII lhe lembrou que os seus antecessores todos tinham dito sentirem-se profundamente honrados com a distinção justamente por não serem dela mercedores, o escritor retorquiu laconicamente: Claro, mas nesses casos era verdade.