A ilha como cenário
Há pequenas pérolas que podem escapar-nos, sobretudo entre tantos calhamaços com capas cheias de relevos e vernizes, mas esta – garanto – seria uma grande perda se não se lesse. A Ilha, de Giani Stuparich, um livro anterior à Segunda Guerra Mundial e publicado agora em Portugal pela Ahab, que vem recuperando clássicos e alguns livros esquecidos ou ignorados pelo nosso mercado, é uma novelinha (ou um conto longo) absolutamente fascinante. Conta a história de um homem doente que pressente a proximidade da morte e desafia o filho a acompanhá-lo à ilha onde nasceu, no Adriático, que quer ver uma última vez. A descrição desses dias é dolorosa e magnífica, não só porque nos custa assistir a uma despedida que é, simultaneamente, uma luta constante contra o tempo, mas também porque, apesar da condição do pai, é o filho quem, pela preocupação excessiva e o pânico de que algo aconteça ao progenitor, parece o doente, e o velho quem, em contacto com os ares da ilha, se torna o mais enérgico dos dois. E, assim, o homem de idade descobrirá a importância de ter deixado descendência, enquanto o mais novo experimentará, fatalmente, a perda anunciada. Numa linguagem bela que me lembrou um pouco Lampedusa, eis um belo livrinho, a que Vila-Matas chamou nada menos do que «perfeito», para um par de horas extraordinárias.