Lixo e Lídia
As agências de rating classificam Portugal como lixo, para não dizer outra coisa pior. Bem sabemos que são americanas e que, num momento como este, faz bem aos Estados Unidos desviar as atenções do seu próprio estado calamitoso e cascar todos os dias nos países do Sul da Europa (até a França já começou a comer). Em todo o caso, não é a primeira vez que vejo a palavra «lixo» associada a Portugal. Num ensaio francamente interessante que a escritora Lídia Jorge escreveu há tempos para uma colecção dirigida pelo jornalista António José Teixeira (e que, tanto quanto sei, está mais ou menos parada), o ponto de partida era precisamente uma placa colocada num lugar onde Espanha deixa de ser Espanha para avisar quem vem que mudou de país. Ora, por baixo da palavra Portugal, alguém rabiscara a preto-preto, ao que parece, a palavra «lixo», e nem vale a pena perguntar se de lá, se de cá, porque não era basura que ali se podia ler. É esta a circunstância que serve de motor de arranque a Contrato Sentimental, um livro que fala sobre a nossa identidade e os nossos problemas com a pátria e não omite aspectos como a língua, a educação, a imprensa e as cidades que temos, entre muitas mais coisas. Se ainda aqui não tinha falado dele – o que é provável, dado que o livro saiu ainda eu não usava blogue e é dos que ainda está num limbo-estante para ser arrumado – aqui vai a sugestão. De qualquer modo, a acusação de lixo recordou-me uma bela frase que uma personagem diz na comédia cinematográfica Bem-Vindo ao Sul: Quando um habitante de um país do Norte vem viver para um país do Sul chora quando chega. Mas chora mais ainda quando se tem de ir embora...