Ler, escrever, ler e reescrever
Rui Zink é, além de escritor, professor universitário – e passam pelas suas mãos muitos estudantes que querem fazer carreira na edição (a Madalena, meu braço-direito cada vez mais indispensável, foi sua aluna de mestrado). E, apesar de ter uma imagem pública que se associa facilmente à paródia, à irreverência e à má-língua, diz coisas muito sérias que devem ser tomadas em conta sobretudo por quem escreve e deseja ver os seus textos publicados. Recentemente, deu uma entrevista muito interessante à revista Maxim (e eu que pensava, passe o preconceito, que estas revistas não tinham nada que ler) em que se colocava na tradição dos escritores portugueses que são simultaneamente criativos e críticos e que, portanto, fazem primeiro a parte criativa e a seguir são críticos de si mesmos, ou seja: escrevem, lêem e... reescrevem, pois claro! Provavelmente, para a maioria dos leitores, este percurso seria o normal, mas a verdade é que a ânsia de ver a obra nos escaparates e um certo amadorismo ou inexperiência impedem, frequentemente, o distanciamento necessário à autocrítica e à reescrita de textos que só lucrariam com esse segundo olhar atento e impiedoso e as consequentes tesouradas. Outra boa tirada de Zink: para escrever, é preciso ler muito primeiro. Totalmente de acordo.