As esperanças
Quando João Tordo venceu em 2009 o Prémio Literário José Saramago, era o terceiro autor que eu publicara a arrecadar o galardão. Generosamente, houve alguém que me chamou “preparadora física da selecção nacional” e, mais tarde, num programa de televisão emitido pelo Canal Q, o divertido Pedro Vieira chamou-me “Mourinho da literatura”. Nenhum editor treina escritores – estes já são escritores muito antes de terem editor – mas, mesmo assim, achei os epítetos bem aplicados porque acredito nas “esperanças” (roubo esta expressão ao futebol) e trabalho muito para as trazer ao conhecimento do público (é só esse, na verdade, o meu mérito, porque a paciência tem limites e muitos dos meus colegas já desistiram de o fazer). Um país sem jovens dotados não se renova e fiquei muito feliz recentemente ao saber da atribuição dos prémios no Festival de Cinema de Berlim a dois jovens cineastas portugueses (um dos quais já premiado em Cannes). Também na música e na pintura não faltam promessas. Conto, pois, com o talento desta geração para fazer a diferença neste Portugal tão cansado. Se, como dizia Agustina, esta é a era do homem comum, aplaudo obviamente todas as aberrações. Tenho, em suma, esperança nas esperanças.