«Papel pintado»
Num dos últimos fins-de-semana, José Pacheco Pereira escreveu no Público uma crónica muito interessante e lúcida que tinha como ponto de partida o fecho da Livraria Portugal na Baixa lisboeta. Embora frequente igualmente a FNAC, era um seu cliente regular e adquiria ali revistas especializadas e obras de temáticas várias – portuguesas e estrangeiras – que não irá encontrar em mais parte nenhuma (ou que, em suma, terá a partir de agora de comprar directamente a instituições, universidades e livrarias virtuais, mas sem poder, naturalmente, folheá-las primeiro). Já aqui escrevi sobre os problemas graves do encerramento de livrarias – e falei no caso da Portugal, que se liga às primeiras memórias que tenho da minha vida editorial –, mas o que aqui me traz hoje é uma expressão que Pacheco Pereira usou nessa sua crónica; referia-se ele aos livros-produtos que hoje inundam as nossas livrarias como «papel pintado». E, se virmos bem, está coberto de razão. Porque, num mundo em que os mercados passaram a dominar, a embalagem tornou-se determinante para a venda e, quando hoje entramos numa livraria, o texto parece o menos notório, destacando-se, em vez dele, o colorido exagerado das capas que, às tantas, até para um leitor experimentado se tornaram um empecilho que confunde o trigo com o joio. Papel pintado, em suma.