Há muitos anos, quando comecei a trabalhar na edição, recebíamos na Gradiva, entre outras publicações, a New York Times Review of Books. Hoje é fácil ter acesso a ela com uns meros cliques no teclado do computador ou, simplesmente, comprando-a num quiosque (aquele onde consumo jornais, pelo menos); mas nessa altura ela vinha pelo correio dobrada com uma tira de papel mais grosso a envolvê-la e era todo um ritual esticá-la e lê-la de ponta a ponta. Porém, o País era mais analfabeto e o mundo menos globalizado, e nem sempre o que constava dos Top de vendas da NYTRB funcionava cá, como o provaram, de resto, umas quantas experiências que fizemos e se revelaram verdadeiros flops. Ninguém nesse tempo parecia apreciar verdadeiramente os thrillers ou as obras de auto-ajuda e as séries que acompanhávamos então na televisão raramente eram as que os norte-americanos produziam, não se vendendo, pois, como hoje acontece, os romances que lhes haviam servido de base. As coisas mudaram bastante nesse sentido e, nos tempos que correm, somos todos cada vez mais iguais em qualquer parte do mundo dito civilizado. É, no entanto, curioso verificar que, sem o apoio do cinema ou da televisão, alguns autores continuam a ser vítimas de uma certa geografia do gosto e, se em Portugal podem ser extremamente bem-sucedidos, em Espanha registam vendas diminutas e, no Reino Unido, são ilustres desconhecidos. Quando, por vezes, falamos de um autor de sucesso em Portugal a um amigo leitor que vem do país donde esse é oriundo, podemos inclusivamente levar com a frase surpreendente: «Nunca ouvi falar.»
Tem razão, a coisa ficou um pouco empastada, com a feira do livro nem tive tempo para rever... O que quero dizer é que, mesmo com a globalização, há autores que podem ser best-sellers num sítio e completamente desconhecidos noutro. Por exemplo, os livros de Sveva Casati Modignani vendem mais de 40 000 exemplares em Portugal e em Espanha os editores desistiram de a publicar porque não vendiam nada que se visse. Por outro lado, há imensos autores que fazem imenso sucesso em Portugal - fazendo crer que são grandes autores nos seus países de origem, e na verdade são praticamente desconhecidos lá. Vou exagerar, claro, mas Luís Sepúlveda é muito menos apreciado no Chile do que em França, Itália e Portugal; mesmo em Espanha, onde mora, não tem uma reputação por aí além...
Obrigado pelas sugestões... irei espreitar assim que puder. Mas voltando a Rentes de Carvalho, nao poderemos dizer que ele é um excepção à regra? Pois bem vistas as coisas ele esteve um grande período de tempo fora de Portugal... eu queria um exemplo de um escritor português, que nunca tenha vivido fora de Portugal, e que no entanto seja mais conhecido fora do que dentro... Será que existe algum assim? obrigado
Rentes de Carvalho foi, realmente, ainda muito novo para o estrangeiro e, pelo que eu me apercebo, ainda vive na Holanda, embora passe temporadas em Portugal. E é ele próprio que escreve em holandês.