Literatura e desemprego
Li uma interessante entrevista dada ao DN Magazine por dois vencedores de Prémios Literários com romances de estreia: João Ricardo Pedro, que arrecadou o Prémio LeYa com O Teu Rosto Será o Último, já em terceira edição, e Tiago Patrício, que ganhou o Prémio Agustina Bessa-Luís, da Sociedade Estoril-Sol, com o romance Trás-os-Montes (ignoro se já está publicado e por quem). O primeiro é engenheiro e o segundo farmacêutico – nenhum portanto homem de letras, embora ambos provavelmente leitores experimentados. Tradicionalmente, embora com excepções (Namora, Torga...), o grosso dos autores portugueses vinha da chamada formação humanista (sobretudo de Filosofia e Literatura, embora também de Direito). Hoje, porém, quando olho para as badanas dos livros que tenho vindo a publicar, descubro vários com formação na área das ciências: David Machado, por exemplo, licenciou-se em Economia, e Nuno Camarneiro em Engenharia Física. Dizem-me alguns professores das Faculdades de Letras de Lisboa e do Porto que são cada vez menos os alunos inscritos nos seus cursos (e é bem possível que a falta de vagas para professor tenha alguma coisa que ver com isto). Será, no entanto, que fogem para os cursos mais técnicos alunos que seriam tendencialmente de Humanidades, apenas porque lhes parece mais fácil arranjar emprego? Espero que não. A verdade é que os dois autores premiados que referi no início estão actualmente desempregados...