Nomes literários
Muitos autores preferem assinar as suas obras com pseudónimo, o que faz algum sentido se tiverem nomes pouco afeiçoados à literatura (como o poeta Eugénio de Andrade, que se chamava José Fontinhas) ou se toda a vida foram conhecidos por alcunhas (como Mia Couto, que se chama António Emílio). Outros ainda assinam com os apelidos dos cônjuges, que guardaram por casamento, e o mantêm mesmo quando o casamento se desfaz. Mas esta opção por vezes é uma carga de trabalhos ou alvo de confusões em termos práticos. Lembro-me, por exemplo, de que, quando Portugal foi país convidado numa Bienal do Livro em Genebra, os quartos de hotel das duas autoras da colecção Uma Aventura tinham sido reservados nos seus nomes literários, mas os nomes dos passaportes não coincidiam (Ana Maria Magalhães tem o apelido Martinho – é, de resto, irmã do actor Tozé Martinho; e Isabel Alçada – sendo, creio, Veiga de solteira – agora, casada com Rui Vilar, chama-se Isabel Vilar). Também o meu autor Miguel Real tem um nome bem diferente desse; e, quando damos o seu telefone a jornalistas e nos esquecemos de os avisar, ligam-nos por vezes a dizer que nos enganámos no número, porque a gravação acusa a propriedade daquele telefone de um certo Luís Martins. Mas a história mais engraçada que conheço a este respeito prende-se com Mia Couto, que foi convidado para participar nos Estados Unidos num encontro sobre questões feministas. Quando chegou ao aeroporto, ficou uma eternidade a aguardar que alguém aparecesse para o vir buscar; já um pouco desesperado, reparou, porém, que havia alguém ali há quase tanto tempo como ele e resolveu perguntar-lhe se, por acaso, não estaria à sua espera. E estava! Só que com a surpresa estampada no rosto: é que, sendo Mia moçambicano, pensavam que era negro; e, além disso, estavam convencidos de que era mulher...