A queda dos mitos
Antes de trabalhar neste ramo, pensava que todas as editoras ocupavam grandes espaços nos quais, para além dos escritórios, funcionava uma gráfica que imprimia os livros. Conhecia o edifício da Europa-América, na estrada para Sintra, e aquele monstro ali plantado era a minha única referência, desconhecendo a localização das outras editoras cujos livros comprava. Depois descobri que essas funcionavam quase todas em andares alugados em Lisboa ou no Porto, com mais ou menos divisões assoalhadas, mas geralmente tendo fora da sede o armazém e encomendando a gráficas que não lhes pertenciam o trabalho de impressão. Hoje, com os gigantes LeYa e Porto Editora, as coisas aproximam-se bastante mais desse meu delírio juvenil, pois para juntar muitas editoras são realmente necessárias instalações amplas – e, mesmo assim, quase toda a gente trabalha em open space, reduzindo-se significativamente os metros quadrados que antes compunham gabinetes, fossem estes individuais ou partilhados. Mas também o mito de que o editor era alguém que tinha lido tudo e não poderia ser surpreendido com um autor que tivesse passado debaixo dos olhos do discípulo caiu por terra assim que comecei a trabalhar. Claro que o meu então chefe me levava um bruto avanço em anos e leituras, mas, mesmo assim, talvez por termos tido formações académicas diferentes, desconhecia muitos autores que eu lera furiosamente – e não falo de jovens promissores ou escritores de línguas estranhas e países periféricos. É, por isso, uma grande satisfação para mim falar com os novos autores que publico sobre o que andam a ler, pois não só podemos trocar impressões sobre alegrias e desilusões comuns, mas também me acontece não tão raramente como isso ser convocada para determinado livro que nunca li ou até – o que é mais engraçado – descobrir que andamos a ler o mesmo livro (que eles estarão a ler com a idade certa e eu com anos de atraso). De um caso assim falarei, de resto, um dia destes.