Empatia
Publiquei há cerca de um mês aquele que foi o meu primeiro livro na Leya – A Vida Verdadeira, de Vasco Luís Curado. Quando aqui escrevi um post sobre ele, recebi um comentário de uma leitora que dizia ter a estranha sensação de que o romance fora escrito para ela, de que o livro a escolhera «para o desassossego ou a provocação». Fiquei contente, porque o romance é francamente bom e merece ter leitores que com ele se identifiquem (espero que haja muitos por essa blogosfera fora – se ainda não leram, estão a tempo, mostro-vos a capa para o encontrarem mais facilmente). Mas o que queria, pegando nesse comentário, era dizer que, de facto, há livros com os quais temos uma empatia muito especial, cuja leitura nos leva inclusivamente a pensar que foram escritos para nós, ou, pelo menos, para alguém como nós. Há uns bons anos (talvez quinze) li um livro exactamente assim. Chama-se Resta a Noite, escreveu-o a espanhola Soledad Puértolas (que viria a ganhar o Prémio Planeta muito mais tarde) e tinha uma personagem que, na época, podia ser eu – com o mesmo tipo de aflições, amigos semelhantes, os mesmos hábitos, as mesmas viagens, até uma relação sentimental (fracassada) que evocava a minha a cada página. Tenho medo de o reler (ou medo de recordar maus momentos?) por causa dessa possibilidade de a empatia já não estar presente tanto tempo volvido. Mas seria sempre um bom livro, tenho a certeza.