O que ando a ler
Hoje é dia de dizer o que andamos a ler (não me esqueci) – e a verdade é que gostava de ter lido mais livros publicados, mas, nos últimos tempos, tenho-me dedicado sobretudo à leitura de provas e de originais de autores portugueses. No entanto, nas míseras horas que sobraram na semana passada, tive a sorte de pôr os olhos numa maravilha alemã, provando que, apesar do actual preconceito europeu, há bem mais nesse país do que a senhora Merkel, a equipa de futebol que tinha as pernas mais compridas do Euro (e, claro, a nossa comentadora Cristina Torrão). Por exemplo, um escritor maior da literatura mundial, W. G. Sebald, já falecido, cuja obra de estreia (aos 44 anos) se chama Do Natural – Um Poema Elementar e acaba de ser traduzida por Telma Costa e publicada pela Quetzal. E nem se atrevam a ter medo da palavra «poema» porque, garanto, o texto se lê com a fluência da prosa – pelo menos, da prosa de Sebald, autor de livros bastante atípicos e bons como Austerlitz ou Os Anéis de Saturno. Dividido em três partes – que correspondem a três personagens (Grünewald, um pintor do século XVI; Steller, um cientista do século XVIII que parte na expedição de Bering, o que deu o nome ao estreito; e o próprio autor) – este longo poema é, entre outras coisas, um hino à natureza (bela a cena em que o pintor ensina o filho no atelier, mas também nos campos verdes; belíssima a descrição do eclipse do Sol em 1502 ou a visita de Sebald com a filha a um moinho, fugindo da cidade; maravilhosa a passagem em que alguém tem a ideia louca, mas imaginativa, de domesticar baleias como animais de carga). Além disso, é um texto que merece ser lido com a ajuda de histórias de arte e atlas, pois, apesar de pequeno, está cheio de referências que engrandecem, ilustram e nos tornam mais cultos e melhores. Aconselho-o vivamente a todos os que adoram literatura e não têm medo dela.