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Horas Extraordinárias

As horas que passamos a ler.

06
Jul12

O monge faz o hábito?

Maria do Rosário Pedreira

Todos conhecem a história do ovo de Colombo – mas ninguém sabe responder se o ovo existiu antes ou depois da galinha. Ora, um dia destes, pensando no Prémio Literário José Saramago por causa da publicação de um novo livro do seu primeiro vencedor – As Filhas, de Paulo José Miranda (que lerei e comentarei oportunamente, assim o tempo mo permita) –, surgiu-me uma questão que se aparenta à do ovo de Colombo. Constatando que este último autor não teve, apesar do galardão, o mesmo destaque dos seus sucessores, perguntei-me porquê, se era evidentemente um bom livro (Natureza Morta) aquele que lhe mereceu a distinção. Com efeito, depois de terem recebido o prémio em causa, os outros autores «abençoados» saltaram para um patamar de visibilidade completamente diferente do que tinham e, regra geral, os seus livros começaram a ser referidos como o que de melhor estava a ser escrito em termos de literatura portuguesa (José Luís Peixoto, valter hugo mãe, Gonçalo M. Tavares, João Tordo). Pareceu-me, pois, relativamente injusto que Paulo José Miranda tenha sido a excepção portuguesa (porque, com os autores brasileiros, é mais fácil perceber porquê) e então ocorreu-me que, se o Prémio Saramago fez muito pelos seus autores, é também possível que os seus vencedores (alguns, pelo menos) tenham feito bastante pelo prémio. Senão, vejamos: José Luís Peixoto (o primeiro autor a conseguir um êxito estrondoso depois de o ter ganho), assim que saiu o seu romance Nenhum Olhar, recebeu elogios de todos os críticos importantes (entre eles, Prado Coelho) e a sua presença em escolas e bibliotecas foi assídua, como então não se usava; o livro chegou a ser finalista do prémio da APE nesse ano (feito raro com um romance de estreia), pelo que, para ele, o Prémio pode ter sido apenas o empurrãozinho que faltava. Também Gonçalo M. Tavares já tinha recebido um outro prémio de relevo quando, no ano seguinte a Peixoto, recebeu o Saramago por Jerusalém (mais tarde igualmente galardoado com o Prémio PT no Brasil), consolidando-se como um dos maiores escritores portugueses actuais. E, a partir destas duas vitórias, o prémio ganhou claramente importância e passou a contribuir claramente, em termos de vendas e visibilidade, para o sucesso dos autores distinguidos – o mesmo acontecendo quiçá a Paulo José Miranda se tivesse concorrido depois, e não antes, de Peixoto e Tavares. Será que, neste caso, o monge também fez o hábito?

3 comentários

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    Luís Urgais 06.07.2012

    Amigo António Luís, se foi o ovo ou a galinha... Talvez fosse mesmo o ovo. Quem o pôs? Fomos nós. Nós quém? Sei lá... O que sei é que somos uma cultura, um legado do caraças... Farto de uma manhã a despachar coisas menores, despreziveis"à considerão superior" à hora do almoço não pude ir ver os sobreiros desboiados - aquim só se enxerga cimento mal armado. Deixei os colegas no balcão das comidinhas rápidas dos mini-pratos e fui à tasca, como eu gosto. Bacalhau à narciso, jarrinho de Almeirim, mas poderia ser Dão, tanto faz(não sei se o cozinheiro é minhoto). Comensais tristes e contentes - povo, gente do trabalho desprezível nos discursos dos média. Eis que, ao meu lado, um casal, cansado, mas vivo, partilhou comigo: Miguel Torga, Manuel da Fonseca, António Jacinto - A senhora tinha chegado da Suécia e estava feliz por estar viva e em Lisboa. Falou-me das mães da Guiné e de Cabo Verde e de Angola, do Bengo veja bem... E eu que ainda às 4 da manhã abria a Guerra dos Mascate entre as páginas 200 e tal e os 300 só para me deliciar. Lembro-me de ter lido" Frei Diogo perguntou: alguém sofre de hemoróidas? então de manhã cedo 3 avé-marias e os cristão-novos em silêncio. Depois liguei a antena 1 e ouvi ler Pina Cabral? Depois não me lembro de mais, acho que adormeci... Agora Pergunta: que andaste a boer eu respondo: vinho...
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    António Luiz Pacheco 06.07.2012

    Olhe que com o bacalhau eu ia para um Dão!

    Pina Cabral? Como o falecido padrinho de minha mãe, militar de alta patente e colocações, homem culto mas que eu saiba nada deixou escrito para ser lido como descreve, está-se a referir ao antropólogo? O autor de "Aromas de urze e lama"?

    São estimulantes e pedagógicas estas nossas conversas extraordinárias...

    Bom fim de semana!
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