Um bom título é importante, se queremos que leiam os livros que escrevemos – e já me aconteceu chegar um livro muito bom com um mau título (e o autor acabou por mudá-lo); chegar a um livro com um título excelente que não correspondia ao que o livro tinha dentro (e não o publiquei); e até haver um título que foi alterado à última hora porque incluía uma palavra «difícil» que cerca de 70 por cento das pessoas que então trabalhavam na editora não conheciam, e a administração achou melhor não correr riscos... Mas há que reconhecer que temos na nossa terra alguns bons escritores com grande talento para intitular. Entre os meus títulos preferidos, está Boa Tarde às Coisas Aqui em Baixo, de António Lobo Antunes, que sempre achei genial, ou Era Bom Que Trocássemos Umas Ideias sobre o Assunto, de Mário de Carvalho, que sabe nomear um romance na perfeição e também já nos brindou com Um Deus Passeando na Brisa da Tarde. De outra geração é o autor que nos tem habituado a querer ler os seus livros só pelos títulos, José Eduardo Agualusa, que tem um trio perfeito: As Mulheres do Meu Pai, Barroco Tropical e Milagrário Pessoal – e que recentemente fez jus ao seu jeito e inteligência e escreveu Teoria Geral do Esquecimento, que apetece logo ler (assim que possa, fá-lo-ei) mesmo sem se saber de que trata. Mas a arte não é para todos, e tenho pena daqueles que escrevem livros belíssimos e que depois, no título, deitam tudo ou quase tudo a perder. No caso de serem autores reconhecidos, com leitores fiéis, ainda vá que não vá; o problema é quando se estreiam com romances muito fortes em que ninguém pega por causa de um título menos apelativo...
5 comentários
Marta Menezes 13.07.2012
Eu sou fã e gosto que se fale dos meus escritores: ele, o Lobo Antunes, o Águalusa, o Kundera, etc., etc. E não acho que seja esforço nem que seja comovente. Tenho seguido este blogue e percebi que algumas pessoas começaram a ler o autor por causa dos comentários que foram surgindo. Senti na sua frase muito cinismo, talvez por o autor ser menos conhecido que os outros. A autora do blogue também se esforça por promover os seus autores. Acha isso comovente? Talvez fizesse melhor em ler os livros de Luís Caminha, para poder criticar melhor... De resto, acho que este blogue não teria metade do interesse se apenas se falasse de autores conhecidos.
Estou cem por cento de acordo. Desconfio que fui eu quem começou a falar aqui do Luís Caminha, mas não gosto muito da palavra fã... Eu não sou fã de ninguém. Mas não preciso que um autor seja mediático para perceber se é bom ou mau. Acho que o Bruno quer dizer que o esforço não vale a pena porque o autor não vai ser mais lido por meia dúzia de gatos pingados falarem bem dele (se formos a ver, ninguém 'importante' costuma fazer referência ao autor). E isso comove-o muito. Se calhar, até chora. Esquece-se que se calhar não é esforço e que está a comover-se desnecessariamente.
Já pensou que o facto de "ninguém importante" mencionar o autor pode dever-se ao facto de as pessoas "importantes" que o leram não acharem grande coisa? O que me dá a entender pelos comentários aqui deixados pelos fãs do Luís Caminha é que estão convencidos que há uma conspiração para silenciar esse grande génio desconhecido, que incompreensivelmente os livros não estão nas livrarias, que as pessoas importantes não falam dele, etc. Cansa-me um bocadinho o proselitismo parolo misturado com teorias da conspiração. Sim, fico comovido.
Estou comovido com a sua comoção, baseada num chorrilho de lugares-comuns, ironia descabida, linguagem "virtuosa" e conclusões precipitadas. Espero que não seja uma pessoa "importante", caro Bruno. Porque, pela amostra, estávamos mal servidos. Fiquemos por aqui que já não consigo chorar mais.