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Horas Extraordinárias

As horas que passamos a ler.

16
Jul12

Tristeza

Maria do Rosário Pedreira

Hoje vou falar de um dos melhores livros que li nos últimos tempos (imperdoável não o ter lido antes) e que, se pensar bem, é também um dos livros mais bonitos que li na vida. Chama-se Almas Cinzentas e escreveu-o o francês Phillipe Claudel, tendo com ele arrebatado o Prémio Renaudot (mas merecia todos os outros, que são muitos, em França). E, para além de bonito, é um livro inteligente, com uma particularidade rara, que é a de só sabermos quem é o narrador já a história vai a meio. História triste esta, que parte de uma morte – ainda por cima de uma criança – para contar a vida de uma pequena cidade do Norte de França e dos seus habitantes – o procurador, o juiz, o presidente de Câmara, a professora, o dono do restaurante... – durante a Primeira Guerra Mundial, num cenário quase sempre triste e cinzento, quase sempre frio e miserável, no qual os ricos são sempre os mesmos e os pobres muitos e cheios de medo. Mas há um crime hediondo que é preciso perceber – ainda que alguém já tenha sido condenado por ele à pena capital – e o narrador tem quase a certeza de que o criminoso continua à solta. Por esse crime, perderá ele o pouco que tem, assemelhando-se nisto ao seu adversário, a quem uma jovem e bonita professora chama Tristeza num tom de carinhosa compaixão. Retrato magnífico de um tempo e de um lugar, com personagens muito bem desenhadas, cheias de humanidade, este romance vale cada página que tem; já não é novo e pode ser difícil de encontrar, mas é preciso andar por aí à procura dele porque não há muitos assim, que nos deixem uma pena imensa de chegar à última página.

5 comentários

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    ASeverino 17.07.2012

    Oh Joca "ALMAS CINZENTAS" romance policial, tamos a brincar ou quê...
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    Jocamartinho 17.07.2012

    Meu caro, esclarecido e extraordinário Severino

    Almas cinzentas é um livro policial - melhor, de mistério - na senda de outras obras do género, embora tenha mais profundidade do que os vulgares romances do crime, investigação e acusação.
    É o próprio autor que, numa entrevista, assim o classifica (e não estava a brincar):
    "Sim, é um romance sobre o mistério e mistérios que nunca se chegam a compreender. Acho que vivemos num mundo em que queremos que tudo seja explicado e não é fácil explicar tudo, ou compreender tudo. Li muitos romances policiais até há dez anos e depois parei, porque cheguei à conclusão que há sempre um culpado, que é apanhado. Acho que por vezes a realidade é mais sombria, mais difusa e menos acessível. Todo o romance é um inquérito sobre um crime, sobre a própria dor do narrador e sobre os homens. Quando escrevo é para compreender os outros."
    Nessa entrevista, sobre "Almas Cinzentas",o entrevistador pergunta:
    "As comparações que fazem da sua obra com a de George Simenon incomodam-no?"
    E ele responde:
    "Em França os jornalistas gostam muito de fazer comparações. E porquê Simenon? Porque nas primeiras entrevistas que dei, há seis anos, disse que gostava de Simenon. Mas sinto-me próximo de Simenon através dos universos geográficos e de coisas nele que sempre admirei. Encontra sempre palavras e frases muito simples. Uma criança de dez anos pode ler um ‘Simenon’ sem precisar de ir ao dicionário procurar uma palavra. E com essa grande simplicidade aparente foi muito longe."
    Aqui:(http://portalivros.wordpress.com/2009/03/31/philippe-claudel-entrevista-a-proposito-de-almas-cinzentas/).
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    ASeverino 17.07.2012

    Oh amigo Joca não se esqueça que está a falar com um inesclarecido daí esta minha admiração e esta minha "bojarda", mas ALMAS CINZENTAS só será um livro policial se "O HOMEM QUE VIA PASSAR OS COMBOIOS" do Simenon também o for!
    Mas não sei se por preconceito ou não nem ALMAS CINZENTAS nem O HOMEM QUE VIA PASSAR OS COMBOIOS, dois extraordinários livros, são livros policiais (para mim)!
    Livro policial para mim só do ROSS PYNN.
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    Jocamartinho 17.07.2012

    Já agora, para além do Ross Pynn (Roussado Pinto), terá lido os "estrangeiros de cá", como Dennis McShade (Dinis Machado) e Orl Mark (Orlando Marques)?
    Em literatura sou muito eclético. Confesso que li, em garoto, livrinhos "western" (concordo, pobremente escritos) e, um pouco mais crescidinho em centímetros de altura, li livros policiais, "puros no género", de autores como Dashiell Hammet, Simenon, Erle Stanley Gardner ou Rex Stout.
    Vou ainda confessar-lhe outra coisa: nunca escrevi um "policial" puro, mas ando com ganas para o tentar.
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