Olhar para trás
O Manel é um grande fã de Patrick Modiano, mas eu nunca tinha lido nenhum livro deste autor que uma publicação em França disse ser o melhor escritor francês depois de Proust. Não conheço a literatura francesa assim tão bem – quase todos os anos, pela rentrée, saem mais de 500 novos romances e é difícil estar a par –, mas, depois de ter lido a novela Horizonte, até posso perceber a comparação estabelecida com o autor da Recherche, uma vez que também aqui (e, ao que parece, em toda a obra de Modiano) se trabalha sobre a memória e as memórias, que são, afinal, o que liga (quando liga) as várias pontas de uma história. O mais invulgar é que, neste livro, são as coisas aparentemente secundárias e laterais na vida do homem que recorda – um rosto numa esquina, uma fachada de um prédio, uma estação de metro – que remetem para o que ele não esquece – no caso, Margaret Le Coz, uma rapariga com um drama pendente, que namorou uns tempos com ele, mas de repente teve medo e desapareceu sem deixar rasto. E, embora não fiquemos nunca exactamente a saber se o drama de Margaret se compôs, reconhecemos que há coisas pelas quais vale a pena olhar para trás e, quiçá também, seguir em frente. Um livro curioso.