Alguns grandes nomes da literatura, como Charles Dickens, começaram a escrever para jornais folhetins que ficavam interrompidos numa semana e eram retomados na seguinte, suscitando grande curiosidade por parte dos leitores. O hábito dos fascículos perdeu-se (embora Rui Cardoso Martins alimente semanalmente no Público uma destas narrativas), mas eis que, em tempo de crise, o Expresso teve a bela ideia de fornecer aos caderninhos a História de Portugal mais completa que recentemente se publicou num só volume, assinada por Rui Ramos (coordenador), Nuno Gonçalo Monteiro e Bernardo Vasconcelos e Sousa. A obra era cara na edição original – sobretudo em época de dificuldades – e, por isso, é uma boa notícia que o semanário decida agora oferecê-la, até porque os conhecimentos dos portugueses sobre a história do seu país andam um bocado por baixo (como se depreende dos questionários feitos à porta das universidades a alunos finalistas, cujas respostas são de bradar aos céus). Além disso, se um livro volumoso nem sempre torna a leitura confortável, muitos levezinhos e de cerca de cem páginas tornam-se realmente um convite a ler, e não só a consultar. Se, por acaso, ainda não tem esta História de Portugal e é leitor do Expresso, guarde-a aos bochechos.
Estimado ALP Penso que havia mais tempo sim pois, para além das edições (caras) vendidas em livrarias, existiam as bibliotecas (para públicos mais ‘intelectuais’) e os Gabinetes de Leitura, pouco falados, mas que eram 8 em Lisboa nas duas primeiras décadas de 1800, segundo Mª Alexandre Lousada (em Leitura, política e comércio: os primeiros gabinetes de leitura em Lisboa -1801-1832). Estes Gabinetes ‘inauguraram a comercialização do acto de ler’ e um deles anunciava-se da seguinte forma: “Salas decentemente mobiladas e à noite bem alumiadas. Comodidade, criados, tinta e papel para escrita.” Uma outra afirmava ser: “Casa decente e bem mobilada, sala de leitura com assentos, mesas com luzes de cera; outra casa onde um indivíduo lerá alto para o povo” Apesar de serem poucos numericamente, mas provam a existência de interesse e de um mercado, no qual vários ‘empresários’ se decidiram a abrir mais Gabinetes, com a certeza que havia público para garantir a sua rendabilidade, mas que nem sempre conseguiram as licenças. Por outro lado, para além do público leitor, directo, havia ainda, e nada despiciendo, o público ouvinte, indirecto, digamos assim. O facto de não se saber ler não era sinónimo de afastamento de certas questões: farmácias, capelistas, ‘lojas de bebidas’, tabernas, correios, entre outros locais, funcionavam como pólos dinamizadores da leitura. Não quero maçar nem ser exaustiva. Caso o assunto interesse, posso enviar uma lista de bibliografia disponível sobre o tema. Abraço e bom fim-de-semana AO
Que interessante! Não sabia não... salas de leitura? Mas pelo que se percebe não seriam para o operariado, mas talvez as houvesse nas colectividades. Ainda me recordo de se ir ao café ou barbeiro ler o jornal ou revistas que aí estavam à disposição. E julgo que havia em algumas oficinas e ateliers o tal hábito de se ler alto, como tenho ouvido dizer que ainda se faz em Cuba nas fábricas de charutos.
Tudo isto é realmente muito interessante... e nos primórdios da rádio também se liam obras! Enfim seriam a telenovelas, que é pena não serem como a Gabriela ou outras, adaptações de romances em vez do que são... maus retratos de maus aspectos da sociedade!