O editor e o marketing
A edição mudou imenso nos últimos vinte anos, e costumo dizer que, se quando comecei a trabalhar como assistente editorial eram os autores que estavam no centro de tudo, pois agora parece que são os leitores que comandam as escolhas dos editores, levando-os, inclusivamente, a encomendar livros que julgam agradar a uma grande parcela da população. Talvez seja, porém, excessivo pôr as coisas nestes termos, pois, em alguns casos, terá sido sempre assim. Digo-o por causa de uma história que o Manel me contou, lida num ensaio francês sobre o marketing do livro. Ela aí vai: O senhor Hachette (esse mesmo, o fundador do monstro editorial Hachette) fazia, pela primeira vez, a viagem de comboio entre Paris e Deauville e, observando os passageiros calados e levemente entediados, chegou à conclusão de que aquele era um verdadeiro tempo de leitura, tanto para adultos como para crianças. Perguntou então à senhora que o acompanhava, ainda jovem, se seria capaz de escrever uma colecção de histórias para crianças. E a dita senhora – que não era senão a Condessa de Ségur – aceitou, nascendo dessa pergunta uma das colecções de livros para raparigas mais famosas de sempre. Como se vê, não é só hoje que os editores (espicaçados pelos directores de marketing) encomendam livros sobre este ou aquele tema a esta ou àquela pessoa. Na verdade, muitos editores já faziam marketing há décadas, mesmo sem conhecerem bem o que a palavra queria dizer.