Diário póstumo
Na véspera do lançamento da minha Poesia Reunida, recebi alguns telefonemas e mensagens de convidados dando-me uma «nega». A razão era compreensível. Exactamente à mesma hora, ia decorrer uma outra apresentação pública a que alguns não podiam mesmo faltar, tratando-se de um livro póstumo de um autor a quem todos devemos o grande impulso na criação da Segurança Social (agora, esqueçam-se da TSU, pois estamos a falar de como tudo começou). Refiro-me a José Niza, que muitos conhecem sobretudo da música – uma vez que foi o compositor de numerosas canções vencedoras do Festival RTP da Canção, entre as quais E Depois do Adeus, que se tornou um marco do 25 de Abril –, mas que foi também médico e deputado pelo Partido Socialista à Assembleia da República pelo círculo de Santarém e colaborou decisivamente na defesa dos direitos de autor no campo da música. O livro, chamado Golden Gate, Um Quase Diário de Guerra, baseia-se na experiência de Niza como médico em Angola durante a Guerra Colonial e reúne a correspondência enviada quase diariamente à mulher durante esse período negro. Ora mais contundente e político, ora mais intimista, este é um testemunho importante que todos devemos ler para não esquecermos o que se passou nem deixarmos que se repita.