Um hobby muito em conta
Nos últimos anos, cresceu exponencialmente o número de autores de livros em Portugal (talvez em todo o mundo, mas falo do nosso cantinho). Perguntei-me muitas vezes por que motivo tantas pessoas desejam ardentemente publicar um livro e sempre me pareceu que a literatura tem uma aura de sagrado e que, para as pessoas em geral, um livro assinado com o seu nome é coisa de meter respeito e, ao mesmo tempo, selo de inteligência e importância. Não vemos, por exemplo, proliferarem pintores, escultores, arquitectos ou cineastas, embora também haja muitos músicos amadores compondo e mostrando constantemente o seu trabalho na Internet. No fundo, talvez a música e a literatura sejam baratas – para a primeira, bastará um instrumento (que hoje até pode ser substituído por um programa informático), para a segunda apenas a língua que falamos. São, efectivamente, actividades ao alcance de todos os que têm ideias ou saibam assobiar (mesmo que muitas vezes assobiem para o lado, já se sabe), hobbies realmente em conta, nos quais o investimento acaba por ser apenas em tempo. Será por isso que se escreve tanto?