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Horas Extraordinárias

As horas que passamos a ler.

07
Jan13

O efeito dos prémios

Maria do Rosário Pedreira

Há muitos anos, ainda na Temas e Debates, publiquei um livro de J. M. Coetzee que era uma mistura de ficção e não-ficção; tomando a história inventada de uma conferencista que devia fazer uma palestra numa universidade sobre literatura, mas se debruçava inesperadamente sobre o tema dos direitos dos animais, o livro apresentava na íntegra a sua palestra fictícia, à qual agregava os comentários de quatro especialistas reais, entre os quais o filósofo Peter Singer. Era uma obra francamente original intitulada As Vidas dos Animais, mas vendeu-se muito mal na altura em que saiu, quiçá devido ao seu carácter híbrido. E, no entanto, por um bambúrrio de sorte, Coetzee venceu o Nobel da Literatura nesse ano e o livro em causa era um dos poucos da sua autoria disponíveis no mercado. Resultado: tornou-se um êxito de vendas em pouco mais de um mês... O anúncio dos prémios e a sua divulgação nos meios de comunicação social têm um efeito inegável nos consumidores, mesmo no que toca à literatura. Em 2011, publiquei o primeiro romance de Nuno Camarneiro, No Meu Peito não Cabem Pássaros, que vendeu moderadamente, como costuma acontecer a obras de estreia. Porém, assim que se soube que o autor vencera o Prémio LeYa com um inédito que há-de ver a luz lá para Março, as livrarias começaram a encomendar desenfreadamente o romance anterior, foi preciso reeditá-lo a correr, e na semana que antecedeu o Natal as vendas devem ter sido mais do que no período que decorreu entre a publicação e o anúncio do prémio. É verdade que Nuno Camarneiro foi entrevistado por todas as televisões e jornais nacionais e apareceu nos noticiários à hora do jantar, entrando na casa de muitos portugueses que se calhar não frequentam livrarias regularmente, mas estaria condenado a ser um escritor praticamente desconhecido se não tivesse ganho o prémio?

5 comentários

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    Sandra Neves 07.01.2013

    Há os que chegam ao público...e os que não chegam. Quanto aos outros mencionados por si, creio bem nem contarem para esta amostragem e discussão. :-)
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    Luis Eme 07.01.2013

    o que torna a questão ainda mais grave, Sandra.

    todos sabemos que não é o talento que vende, mas sim as máquinas que se montam à volta dos autores e a sua visibilidade pública.

    porque será que temos tantos escritores, ligados à televisão?

    em relação ao primeiro livro do Nuno, que ainda não li, gostei logo do título e da capa...
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    Sandra Neves 07.01.2013

    Luís: umas vezes o talento, outras a própria pessoa do autor. Não generalizemos. Mas quem escreve deve, também, ter em conta, (se assim o entender) as preferências do leitor médio nacional. Para, depois, não existirem surpresas.
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    Luis Eme 07.01.2013

    mais uma questão pertinente, Sandra.

    os grandes escritores não escrevem a pensar nos leitores.

    escrevem quase sempre para dentro de si.
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