Respeitinho
Já aqui referi uma vez que, nas listas elaboradas em Dezembro pelos jornais, à guisa de balanço, dos livros do ano, constam quase sempre títulos que, efectivamente, não são desse ano, obras escritas e publicadas meio século antes, mas que, por virtude de uma nova tradução (assinada por alguém que imponha respeito) ou de uma reformulação (como a opção de juntar num só volume o que antes só estava disponível em vários), acabam por ganhar estatuto de novidade. Na lista que o suplemento «Actual» do Expresso publicou na semana passada sobre o que aí vem de peso em 2013 no que toca a livros, este fenómeno repete-se – e temos, por exemplo, destaque para Lolita, de Nobokov, que pertence ao catálogo da Teorema há muitos anos, mas agora sai noutra chancela com uma tradução de Margarida Vale de Gato. É simpático, se não completamente merecido, este respeito pelos grandes tradutores que, ao longo de muito tempo, nem sequer tinham direito ao seu nome no frontispício dos livros que traduziam, quase sempre remetidos à ficha técnica em caracteres minúsculos. Antes disso, porém, nos anos 40 ou 50 do século passado, quem traduzia era digno de consideração – e um dia destes, num velhinho livro que ando a ler, encontrei até o excessivo «Dr.» antecedendo o nome do senhor responsável pela tradução. O respeitinho é muito bonito.