Mudam-se os tempos
Dou comigo a pensar que, quando era mais nova, me entusiasmava com alguns livros a ponto de, como um verdadeiro cruzado, obrigar toda a gente que conhecia a lê-los. Hoje, não sei se pela idade, se pela quantidade de livros lidos, já me é difícil encontrar uma obra que justifique tal empenho. Mesmo autores que, no passado, me encheram as medidas parecem escrever actualmente obras menos profundas ou empáticas (senti isto, recentemente, com o último romance de McEwan, por exemplo, mas calculo que o problema seja meu, e não do livro). Em todo o caso, acredito que, para além do «envelhecimento», haja um certo número de obras que, no seu tempo, foram fulcrais, mas que, num contexto e época diferentes, já pouco dizem aos leitores. Falo disto porque, recentemente, desencantei da estante do Manel um clássico que queria muito ler (e dele falarei noutro dia), inserido numa colecção da Editorial O Século que prometia «As Maiores Obras do Nosso Tempo». Só que esse «Nosso Tempo» já não é este tempo que agora é o nosso, porque da lista de livros publicados e a publicar na colecção constavam apenas cinco títulos que hoje ninguém lê (para não dizer que quase ninguém sabe sequer que existem). Senão, vejamos: Vitória Quatro e Meia, A Glória de Don Ramiro ou A Solteira dizem-vos alguma coisa? Ou, se preferirem, Enrique Larreta ou Louis Bromfield são escritores que se encontram nas vossas estantes? Senti-me um bocado ignorante, devo confessar, e só me aliviou saber que não era a única a não conseguir identificar senão Thomas Hardy entre os autores da lista. Talvez daqui a uns anos ninguém se lembre dos livros que, entusiasmadíssima, li na juventude e obriguei toda a gente a ler. Há sempre demasiados livros condenados ao esquecimento.