O miolo e a côdea
Há pouco tempo, descobri que os livros juvenis que mais sucesso faziam na LeYa eram, estranhamente, livros do meu tempo de miúda. A verdadeiramente prolixa Enid Blyton não fora, pelos vistos, ultrapassada pelos autores mais recentes, e a sua colecção As Gémeas continuava (e continua) imbatível. Achei curioso, porque já quase ninguém anda em colégios internos como as gémeas e o mais provável seria os leitores actuais não se identificarem com as suas histórias; mas, ao que parece, ainda são as partidas inocentes (como pôr aranhas na cama das colegas) a cativarem meninos e meninas, uma forma de poder fazer maldades sem ser mau (já chega de violência a sério nas escolas, com tanto bullying e cenas de pancadaria). Há também quem diga que o sucesso das Cinquenta Sombras não é, ao contrário do que eu pensava, a suposta pornografia, mas o facto de a história ser entre um trintão rico e uma rapariga pobre, receita que, pelos vistos, nunca se gasta e funciona sempre (e isso explica, até certo ponto, por que razão as obras do mesmo tipo publicadas no rasto da trilogia de E. L. James se vendem muito menos). Haverá então, por parte dos leitores de todas as idades, uma maior predilecção por um miolo antigo, familiar, confortável e desejável, sendo a côdea mais ou menos indiferente? Quereremos, no fundo, as coisas inocentes ou bonitinhas de sempre, e o resto é mero revestimento?