Aos pares
Em determinadas épocas perfilam-se pares de autores que atingem um grau de sucesso semelhante. São, pois, concorrentes, seja nas vendas, seja na notoriedade e nos prémios alcançáveis. Por vezes, tornam-se adversários – e isso leva a que, tantas vezes estupidamente, se pense que quem lê e gosta de um não terá pelo que o outro faz grande atracção ou genuíno prazer. Dizer que quem adora Saramago não pode gostar de Lobo Antunes – ou vice-versa – é uma tolice, embora possamos pender mais para um do que para outro por terem estilos francamente diferentes. Nos meus tempos de faculdade, era-se mais Herberto Helder ou mais Eugénio de Andrade, por exemplo, como se não se pudesse ser isso tudo e ainda mais (Sophia, Ruy Belo, Jorge de Sena ou Ramos Rosa). No Brasil, se vou como poeta a algum encontro, logo querem saber se sou adepta de Drummond de Andrade ou de Manoel Bandeira; e um amigo italiano que escreve poesia perguntou-me uma vez se eu era dos que amavam Ungaretti ou dos que preferiam claramente Montale. Enfim, esta coisa de um contra o outro não me agrada. Porque não aos pares?