Ofendido
As literaturas têm, normalmente, marcas de nacionalidade, mas há sempre casos de romances que se aproximam mais da literatura de outros países do que do país em que foram escritos. É este o caso das obras de Gonçalo M. Tavares, por exemplo, que a crítica diz terem um cheirinho a Europa Central – e o mesmo acontece com A Ofensa, de Ricardo Menéndez-Salmón que, sendo espanhol, também recorda numa certa secura as obras de Tavares e de autores alemães, húngaros ou polacos. Kurt, o protagonista, seria o herdeiro do negócio de alfaiataria da família se a guerra não tivesse eclodido (falo da Segunda Guerra Mundial), levando-o para longe de casa e de uma namorada que não voltará a ver, porque é judia – e, aos judeus, sabemos o que aconteceu nessa época. Muito contido e brilhantemente escrito, este é um romance sobre como pode a visão do horror afectar o corpo de um soldado que, de repente, deixa de entender a própria língua e a vê como idioma hostil e ininteligível. Excelente para umas horas livres (é um texto curto), deixa-nos a pensar durante muito tempo.