Situacionismo
Algumas publicações, nomeadamente o Jornal de Letras (mas também um artigo de Eduardo Pitta na revista Ler) têm dedicado várias páginas inquirindo escritores sobre a situação actual e querendo saber como vai ela influenciar as suas obras. Sendo os escritores, antes de mais, cidadãos como toda a gente, é natural que a sua vida se veja afectada pela crise e pelo desinteresse a que este governo tem votado as artes e as letras – e isso os leve a manifestações de repúdio e a concentrações de intelectuais (como aconteceu nas Correntes d’Escritas mais recentemente), nas quais exprimam as suas opiniões, por assim dizer, políticas. Mas isso não tem necessariamente de acontecer nas suas obras, que podem não reflectir nada do que se está a passar sem que, por isso, os achemos uns cobardes ou alheados. Quando comecei a trabalhar na edição, pude, com muito gosto, enquanto assistente editorial, acompanhar a publicação de algumas obras do saudoso António José Saraiva – e foi numa delas que li que é ao escrever que o escritor cumpre a sua obrigação para com a vida. O resto é cidadania – e é nela que não se pode demitir das suas obrigações.