Retrato de época
Sou muito pouco televisiva e, em minha casa, quando a caixinha está acesa, é normalmente a Sport TV que impera... Não me importo muito, porque o ruído de fundo do futebol não me perturba por aí além e posso ler um livro ao mesmo tempo que o Manel vê os jogos e, de vez em quando, já nervoso, dá uns pontapés no ar. Havia, porém, uma série que gostava muito de ver aqui há um ou dois anos. Chamava-se Conta-me como Foi e fora escrita, entre outras pessoas, por uma guionista que muito admiro (e de quem sou amiga, convém que se diga) – Helena Amaral –, tendo como consultora outra Helena (esta Matos), que fez ali um trabalho excepcional de reconstituição de época. Provavelmente, essa pesquisa foi o princípio de uma investigação mais demorada para um livro que acaba de sair – Os Filhos do Zip-Zip –, centrado no Portugal dos anos 70 do século passado. Quem se lembra do Zip-Zip, um programa que mudou a forma de ver televisão em Portugal, conduzido por Carlos Cruz, Fialho Gouveia e Raul Solnado, sabe que estou a falar de uma aventura televisiva que mobilizou milhares de espectadores ao longo do período em que foi emitido, tanto pelo divertimento como pelo lado polémico e transgressor. Este livro parte, pois, dele para nos oferecer um relato das mudanças que então se verificaram no País, desde a ida de muitas famílias para os arredores, as tertúlias nos cafés, o aparecimento dos primeiros supermercados, as músicas, os anúncios e os brinquedos como o Lego. A minha geração agradece a lembrança. Ainda não li, mas já o tenho em casa.