Romance ou novela?
Por razões que não interessa aqui explicar, veio parar-me às mãos um pequeno livro de bolso dos anos 50, de um senhor chamado Paul Morand que, apesar de ter pertencido à Académie Française, é praticamente desconhecido em Portugal. Desse livro não falarei, porque mal iniciei a leitura; mas no prefácio encontrei algumas pérolas em defesa da novela (contra o romance?), que era, pelos vistos, o género em que este autor pontificava. Aí vão algumas:
«Ao organismo invadido pela celulite [o romance], prefiro o corpo magro e seco da novela.»
«Um romance, mesmo medíocre, pode conter boas páginas; uma novela não; como na arte do fresco, por menor que seja, um erro é sempre irrecuperável.»
«A novela é como uma noite num motel americano; recebe-se das mãos do porteiro as chaves do bungalow e depois é tudo self-service e cash and carry. O leitor recebe o tempo e o espaço na mesma embalagem.»
«Num romance a personagem instala-se, deixa de ser o inquilino para se tornar o senhorio. Numa novela, não, a personagem está sempre acampada. A novela é um móvel, o romance um imóvel.»
Se gosta de novelas (ou romances mais curtos), não deixe de ler um maravilhoso livro de Olivier Rolin, Porto Sudão, que a ASA publicou há muitos anos. Procure-o, se for preciso, num alfarrabista.