Escola-Benetton
Quando escrevia livros juvenis (e quantas viagens ao estrangeiro fiz à conta deles, que tão bem se vendiam nesses tempos...), visitava regularmente escolas para conversar com os leitores de palmo e meio, umas vezes genuinamente interessados e preparados para esse encontro, outras vezes apenas barulhentos e irrequietos, nunca ouvindo as perguntas dos colegas e repetindo-as a cada dois minutos, levando-me a concluir que o professor queria era uma folga durante o tempo em que eu estivesse na escola e nada se dera ao trabalho de preparar com os alunos. Mas foi literalmente uma volta a Portugal e uma viagem em vários tempos, no decurso dos quais iam mudando sobretudo os nomes das crianças que pediam autógrafos no final das apresentações de Carla, Sandra, Igor e Ivan para Marias, Joanas, Pedros e Joões (como quando eu era pequena). Deixei de ir a escolas há bastante tempo, seja porque os meus livros passaram de moda e há outros mais interessantes para os miúdos de agora (desde que leiam, não me queixo), seja porque também disponho de menos tempo. Recentemente, porém, aceitei um convite para estar com duas turmas de alunos em Sesimbra (fui à hora do almoço e antes das cinco já estava de volta ao trabalho) e, ao olhar aquelas carinhas que tinha à frente, senti-me num anúncio da Benetton. Em primeiro lugar, porque havia bastantes crianças orientais (chinesas, por certo, mas também uma japonesa), o que dantes não acontecia. Depois, porque os loiros eram muito mais (e não do Norte de Portugal, mas do Norte da Europa: ucranianos, moldavos, russos). Por fim, porque filhos de africanos nascidos em Portugal também são já em número considerável e com vários matizes. Resultado: gostei. Sempre achei que nas turmas que frequentei em miúda éramos todos demasiado feios e parecidos, e assim sempre se quebra a monotonia!