Envelhecer
Nos últimos anos, tenho assistido a um notável desenvolvimento daquilo a que vulgarmente se chama romance gráfico, embora em muitos casos (como o que hoje me interessa) a expressão seja um pouco redutora. Provavelmente, Rugas, de Paco Roca, não é sequer um romance (embora seja uma narrativa) e pode ser gráfico, por ter desenhos, mas aqui as palavras talvez contem mais do que as ilustrações. É, em todo o caso, uma obra francamente interessante sobre o envelhecimento e os lares de terceira-idade para onde são empurrados os que já não são autónomos e dos quais os filhos não podem ou não querem tratar. É isso mesmo que acontece a Emilio, o protagonista de Rugas, quando, aos setenta e picos, dá os primeiros sinais de uma confusão que vem a saber-se ser Alzheimer. Internado numa instituição, primorosa e humoristicamente retratada como uma sequência de salas onde dormitam velhos, com ou sem televisão, o objectivo de Emilio será manter-se no piso de baixo, onde ainda lhe resta alguma dignidade, como lhe aconselha logo à chegada o cínico Miguel, que aproveita as fraquezas alheias para surripiar carteiras e outros bens pessoais e para chamar os bois pelos nomes desapiedadamente. Não é tão insensível como, à primeira vista, possa parecer; mas para isso e para saber o que acontecerá a Emilio será preciso ler este livro muito premiado até ao fim. O que, naturalmente, sugiro.