Cobrir e mostrar
Li um interessante artigo que me enviaram pelo Facebook sobre as razões por que em França as capas dos livros são sempre tão sóbrias, ao contrário do que se passa no resto do mundo (e Portugal não é excepção). Defende Charlotte Pudiowski, a autora da peça, que a França tem uma relação com a literatura que se inscreve numa lógica de sacralização que remonta ao século XVIII e que os escritores se tornaram uma espécie de santos e heróis desse país laico no século XIX. É, pois, para os franceses, o texto que conta – as imagens tornam o leitor menos livre para imaginar o que quiser ao longo da leitura – e esse tem de ser auto-suficiente, motivo pelo qual as colecções de ficção das principais editoras francesas têm apenas uma cor de fundo e letras simples e elegantes para o título e o nome do autor – são conhecidas apenas como a blanche (da Gallimard), a jaune (da Grasset) ou a bleue (da Stock) e associam a sobriedade a uma literatura elitista e de grande qualidade. As primeiras capas ilustradas que apareceram em França foram, não por acaso, as das edições de bolso, que se queriam obviamente mais populares para atraírem outro tipo de leitores, e parece que, mesmo assim, o debate foi imenso no seio da intelligentsia editorial... Diz-nos ainda o artigo que, em França, são as livrarias quem vende mais livros, ao contrário de países onde estas foram claramente ultrapassadas pelos supermercados, nos quais o livro é apenas um dos muitos produtos à venda – e, requerendo atenção, tem de se cobrir de cor e imagem para ser visto e adquirido. Domaine intellectuel vs Loisir, acrescenta uma editora ali citada. Hum... Precisávamos de um bocadinho mais de tradição francesa no nosso sistema editorial, ou não?