Auto-retrato
Conhecia o autor e até publiquei em Portugal As Partículas Elementares, que não é o seu primeiro romance, mas foi o primeiro a sair em tradução portuguesa. E, no entanto, O Mapa e o Território, de Michel Houellebecq, vencedor do Prémio Goncourt, é um livro inteiramente diferente e, em certa medida, nem sequer parece de um autor francês contemporâneo. Fala-nos de um artista, Jed Martin, que pede a Houellebecq (uma das principais personagens) que lhe escreva o texto de abertura do catálogo da sua primeira grande exposição (na anterior, colectiva, havia exposto uma fotografia de um mapa Michelin que o tornou um artista de sucesso) – e este acaba por concordar, criando-se entre os dois uma relação não exactamente amistosa ou íntima, mas em todo o caso empática e digna de nota. Jed decide então retratar o escritor e oferecer-lhe esse quadro – e o mais interessante é que a personagem do pintor serve ao próprio autor para se retratar na terceira pessoa sem cinismos desnecessários como o homem estranho e misantropo que todos sabem que é. Na sequência da viagem que Jed faz para entregar o quadro (finda a exposição), o livro muda completamente de rumo, e uma morte inesperada em condições horripilantes (cabeças degoladas e corpos desfeitos) levar-nos-á até ao culpado do crime pela mão de um comissário da Polícia (ou não exactamente). Cheio de movimento e animado aqui e ali com descrições pormenorizadas de questões laterais ao enredo, O Mapa e o Território é, entre outras coisas, um excelente romance sobre os artistas de várias naturezas e as suas vidas públicas e privadas. A tradução é de Pedro Tamen.