Filmes
As palavras levam-nos por vezes aonde não esperávamos e ajudam-nos a desenvolver a nossa veia de ficcionistas (ou, quiçá, uma imaginação delirante). Um dia destes estava a ler o jornal Público a correr – como acontece quase todas as manhãs – e a passar os olhos pelas gordas e, de repente, os meus olhos arregalaram-se com o título de uma coluna: «Ressurreição de Visconti confirmada em Vicenza.» Sou uma grande admiradora de Lucchino Visconti e apreciaria bastante o seu regresso à vida e ao cinema, pois neste século ainda não encontrei um realizador com o seu bom gosto e a sua elegância; mas que anunciassem a sua ressurreição pareceu-me, ao mesmo tempo, um reles golpe publicitário do município de Vicenza para se fazer importante e levar até lá gente de todo o mundo arrepiada com o milagre. Brinco, claro, mas foi ao autor de filmes como Rocco e os Seus Irmãos ou O Leopardo que aquelas palavras me levaram. O meu delírio acabou, contudo, mal li as primeiras linhas da notícia: estávamos, afinal, na página de Desporto e Visconti é um ciclista italiano que, pelos vistos, deu a volta por cima e venceu quatro etapas do Giro (a volta a Itália em bicicleta). Tenho de estar mais atenta aos cabeçalhos da próxima vez para não me pôr a fazer filmes…