Prisões
Está-se preso por muitas razões – e a ideia básica de que os reclusos são todos gente iletrada e desinteressada dos livros não corresponde à verdade. Basta pensarmos que Jean Genet ou Oscar Wilde estiveram presos para arrumarmos o preconceito num canto que fique a ganhar pó até que alguém o limpe e faça desaparecer de vez. Miguel Horta, pintor e animador cultural, a convite da Casa de Camilo e com o apoio da organização da «Guimarães, Capital da Cultura», criou um programa na biblioteca do Estabelecimento Prisional de Guimarães baseado n’As Memórias do Cárcere, de Camilo Castelo Branco. A obra serviu basicamente de pretexto para um número de reclusos criarem as suas próprias memórias, relacionando biografia e literatura. O projecto inclui a edição de um livro, a realização de um documentário e ainda uma curta-metragem. Miguel Horta tem experiência nestas coisas, pois há dez anos que trabalha em prisões em colaboração com o Instituto Português do Livro e das Bibliotecas, mas, citado num artigo de Andreia Brites na revista Blimunda da Fundação José Saramago, confessou que a experiência de Guimarães foi muito além do que é costume, em número de horas e nos resultados (entre outras coisas, descobriu um jovem recluso que tinha o 12.º ano que considera um grande poeta). Excepcionalmente, os detidos tiveram licença para visitar a Casa de Camilo e ouviram a história do escritor; um deles, que tivera ordem de libertação nesse dia, adiou a saída só para poder fazer a visita. Agora ficamos à espera destas Novas Memórias do Cárcere com muita curiosidade.