Itinerários
Leio num jornal que, na Vidigueira – numa iniciativa que se chama Vidigueira Cidade do Vinho 2013 e integra a rede Os Caminhos de Vinha na Europa –, a autarquia promove o vinho da região através de um itinerário turístico que inclui a participação nas vindimas, um passeio guiado pelas vinhas e provas de vinhos. O néctar dos deuses, pelo menos de Baco, está na moda – e existe um turismo vinícola consolidado no Velho Continente e não só (na Califórnia, consta que também dá uvas). Mas, se às vezes parece que a cultura em época de crise está reduzida ao vinho e à gastronomia, não é bem assim – e contam-me que alguns operadores turísticos usam os livros como motivo de viagem (nunca houve tantos americanos no Louvre como depois de ter sido publicado O Código Da Vinci) e os escritores como guias (depois de ter escrito Dentro do Segredo, por exemplo, José Luís Peixoto foi requisitado para «mostrar» a Coreia do Norte a quem quis e teve dinheiro para o acompanhar). Na cidade de Dublin, há muitos anos, já havia itinerários para os turistas baseados no Ulisses, de Joyce (ainda guardo um mapa lá em casa), e no Porto lembro-me de ter sido traçado um caminho romântico a partir da obra de Camilo. Há muitas viagens literárias que gostaria de fazer, é um facto, embora saiba que nenhuma agência pode transportar-me a Macondo ou ao Coração das Trevas. Mesmo assim, não é má ideia inventar roteiros que nos levem a conhecer melhor os cenários dos livros que amámos. Ou usar essas viagens para despertar o interesse pela leitura a quem ainda não os tenha lido, claro.