Pois bem, algumas mulheres que conheço – escritoras – defendem que os seus livros vendem menos porque os jornalistas e críticos literários só dão atenção aos livros dos seus confrades homens. No caso que hoje me traz aqui, nada podia ser mais falso, uma vez que o livro era de um homem – Robert Galbraith, para ser mais exacta – e, desde que saíra, no Reino Unido, vendera uns míseros 1500 exemplares (que, por lá, é quantidade ínfima, como sabemos). E isso não acontecera por ter passado despercebido: tinha recebido excelentes críticas o policial de capa chamativa com o título The Cuckoo’s Calling publicado pela editora Sphere, que se pensava ser de autor estreante e promissor. Contudo, no domingo 14 de Julho, o Sunday Times, que adora uma boa manchete, pôs a descoberto a verdadeira identidade do autor, revelando que se tratava nada mais, nada menos de uma obra da pena de J. K. Rowling, a celebrada inventora de Harry Potter. Em poucas horas, o romance já era um dos mais vendidos da Amazon… Talvez os ingleses não possam ser acusados de machismo, enfim.
6 comentários
ASeverino 24.07.2013
Mas "UMA VIDA À SUA FRENTE" é um excelente livro e só me lembro de na capa ter como autor ROMAIN GARY
Claro Severino! Ele só usou o pseudónimo quando submeteu o livro a concurso e até receber o prémio. Quando o livro teve edição em português (cerca de 30 anos depois da edição francesa, salvo erro) saíu com o nome do autor. Ele só quis provar que era possível dar o Goncourt duas vezes ao mesmo escritor, embora «escondido» num outro nome. Pode pesquisar, a história é bem conhecida nos meios literários. E ele era mesmo bom pois conseguiu o prémio sem revelar a verdadeira identidade, ao contrário da Rowling que não estava a vendar nada com o tal pseudónimo, conforme nos conta a Rosário. :) Antonieta
E há um belíssimo documentário, que passou há uns anos atrás na RTP2, a propósito do episódio desse Goncourt que nomeadamente revela que o senhor Ajar, personificado fisicamente durante anos [deu entrevistas a jornalistas!] por um conhecido do Gary, espantosamente não quis deixar de ser reconhecido como o autor do romance depois de ter sido revelada a belíssima tramoia armada pelo escritor ! Um verdadeiro romance a acrescentar ao "Uma Vida à Sua Frente" !
Tenho pena de não ter visto esse documentário, eu li um artigo na LIRE e depois pesquisei na net. Gary suicidou-se em 1980, deixando uma nota em que assumia ser Émile Ajar, e também que o seu suicídio não tinha nada a ver com o da Jean em 1979. Quem não se lembra da belíssima Jean Seberg no «À Bout de Souffle» do Godard? Foram casados durante vários anos e acabaram ambos tragicamente. Antonieta
Absolutamente maravilhosa a Jean Seberg nesse belíssimo filme a preto a branco passado numa Paris que eu, jovem na altura, imaginava uma cidade perfeita e, sobretudo, mesmerizado por imagens e enredo que ofereciam vida e liberdade através do par mágico e trágico que ela fazia com o voyou " Belmondo . Marcou a minha geração.
Havia uma teia de procura de amparos mútuos entre a Jean Seberg e o Roman Gary . Ela era a mulher bela e jovem casada com esse homem genial, mas muito mais velho, que claramente lhe servia de pigmalião e de figura paterna.
Pelo seu lado, Gary não conhecera o pai e era filho de uma viúva judia que emigrara do leste para Paris e de quem ele dependia doentiamente. Lembro-me de ouvi-lo em discurso direto nesse documentário dizendo, já idoso e muito anos após a morte da sua mãe, que todos os dias fazia a si próprio a mesma pergunta: "será que a minha mãe estaria de acordo com o que vou ou estou a fazer ?"
Envelhecido e doente, sem a mãe e depois do suicídio da mulher/filha, que lhe restava ?
Não será a grande literatura a conjugação do talento genial com a necessidade de sarar pela escrita feridas profundas ? [ajudando-nos assim a sarar, pela leitura dos romances, as nossas próprias feridas]