Fechada e sem obras
Sempre que vou ao Chiado, passo os olhos por meia dúzia de montras que ainda têm gosto a infância (e, se não fosse o incêndio nos anos 1980, muito mais teria com que me deleitar, pois tenho saudades de apalpar as fazendas de xadrez no Eduardo Martins e beber batidos de ananás na Pastelaria Ferrari entre paredes de espelhos). Uma dessas montras era a da Livraria Sá da Costa, que – como aconteceu a tantas outras nos últimos anos (a Livraria Portugal, por exemplo, na Rua do Carmo) – vai fechar (ou já fechou) as suas portas. É realmente uma pena vermos fechar para sempre livrarias bonitas, humanas e com história, de soalho encerado e livreiros informados, e ficarmos reduzidos às cadeias de lojas que, embora com espaços muito mais amplos, também não oferecem, afinal, muito mais do que as novidades. Mas a verdade é que a Sá da Costa já há muito que estava a definhar e, provavelmente porque nem se encontrava em situação de poder comprar livros às editoras, tinha o ar de uma loja de livros usados. Tenho pena de não ter entrado lá mais vezes nos últimos anos à procura de alguma coisa nova ou antiga, até porque os cinco funcionários que a geriram nos últimos tempos vão decerto engrossar as filas de desempregados. Eles que me desculpem por não ter comprado lá livros neste período mais difícil. Agora, vou compenetrar-me e tentar visitar com mais assiduidade outras livrarias independentes e humanas que ainda restam.