Leituras obrigatórias
O Manel, por causa da ideia do Expresso de que já aqui falei, anda a reler Os Maias; e esse facto gerou uma conversa sobre as leituras escolares obrigatórias e a imaturidade com que todos lemos determinados livros e autores, como Gil Vicente, Fernão Mendes Pinto, Camões (o d’Os Lusíadas) ou o próprio Eça que, relido na idade adulta, contém um suplemento de prazer. Nessa conversa, que decorreu durante uma sessão de autógrafos sem grande afluência (a praia a ganhar ao livro, claro), a escritora Inês Pedrosa referiu que tinha dado a Lírica de Camões a ler recentemente à filha (que a adorou) porque a achara desavinda com a épica camoniana estudada na escola (se calhar, a fazer divisão de orações); e acrescentou que, sendo hoje uma grande admiradora da obra de Agustina, não gostara assim tanto de A Sibila quando a lera pela primeira vez em adolescente. Isso acendeu porém uma recordação que não resistiu a partilhar connosco e eu faço o mesmo com essa história deliciosa: Agustina Bessa-Luís ficou a certa altura sem empregada e, andando à procura de uma pessoa que pudesse trabalhar para si, uma conhecida recomendou-lhe uma rapariga de confiança que, além de estar a precisar de emprego, não era propriamente uma ignorante. Puseram-se então ambas em contacto e foi combinado um dia para conversarem e verem até que ponto podiam ser úteis uma à outra. Porém, quando a rapariga se apresentou em casa da escritora e soube finalmente o seu nome (ou reconheceu o seu rosto de alguma contracapa, já não sei), foi peremptória ao afirmar que não havia nada a fazer, pois de modo algum trabalharia para aquela senhora. A razão era simples: a autora de A Sibila era a verdadeira responsável por a rapariga nunca ter conseguido acabar o liceu…