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Apaixonei-me na universidade por um poeta irlandês que recebera o Nobel nos anos 20 (W. B. Yeats) e, quando fui à Irlanda, cheguei a visitar em Sligo a sua sepultura num jardinzinho à roda de uma igreja, cujas árvores então praticamente despidas tinham, recordo, ninhos de corvos que pareciam desenhos a tracejado. O lugar era uma pintura – e, na Irlanda, acontece frequentemente tratar-se com bom gosto e carinho tudo o que diz respeito aos escritores. Foi sobre isto também que escreveu recentemente Miguel Esteves Cardoso (MEC) ao referir numa crónica a morte do poeta Seamus Heaney (outro grande), que tive a sorte de ouvir ao vivo na Feira do Livro de Frankfurt dedicada à Irlanda, em 1996, pois foi quem fez o brilhante discurso de abertura. Ao contrário dos ignorantes que nos governam no nosso rectângulo e desprezam na generalidade os artistas, os intelectuais e as suas opiniões, os dirigentes irlandeses, contava MEC, fizeram o elogio do poeta desaparecido no final de Agosto recitando versos dele de cor e chamando-lhe apenas Seamus, com a familiaridade que ele merecia. Foi em Dublin que visitei a primeira livraria aberta até à meia-noite, há muitos anos (nessa altura, nem havia centros comerciais em Lisboa) e que ouvi um trabalhador rural a quem pedimos informações na estrada falar de Yeats como aqui, se calhar, falariam de Toni Carreira ou, quando muito, de Amália. Um país que já teve quatro prémios Nobel da Literatura cuida, melhor do que ninguém, dos seus escritores.