Filho e pai
A relação das mães com os filhos ou as filhas enche milhares de páginas de todos os tipos de ficção (e muitos artigos de revistas – pois parece que agora a maternidade está de novo na moda). Mais rara é, porém, a relação pai-filho como assunto de livro – quiçá porque durante décadas eram as mães que ficavam em casa com as crianças, enquanto os pais trabalhavam fora e quase não as viam. Sublime entre tudo o que li sobre esse binómio mais invulgar é o romance A Estrada, de Cormac McCarthy (dizem que vem aí o filme, mas é muito difícil pensar num filme baseado nesse livro sem ficar de pé atrás). Seco e despojado como muita da literatura americana, um pontapé no estômago permanente, este texto belíssimo vira-nos as vísceras do avesso e nunca mais somos os mesmos depois dele. Num mundo que não queremos que nos aconteça (mas não será o livro também um aviso?), os sacrifícios do pai pelo filho comovem-nos e sacodem-nos em igual medida. Genial também como só duas personagens e os seus parcos diálogos chegam e sobram para nos encher a alma de espanto.