O lugar do morto
Conheço muitos escritores, não só dos livros, mas da vida – pois, como editora (e poeta às vezes), já estive com dúzias deles nas minhas várias salas de trabalho, em lançamentos, acontecimentos oficiais, festivais e encontros literários quer em Portugal, quer no estrangeiro. E há de tudo, evidentemente, porque, antes de serem escritores, são seres «humanos» como todos os outros e, portanto, não constituem excepção na diversidade. Alguns surpreenderam-me pela positiva, conservando uma admirável modéstia quando a obra já os consagrara como génios; outros, porém, apresentaram-se muito diferentes do que os imaginei enquanto lia os seus livros e revelaram egos tão gigantescos que quase senti ter sido melhor não chegar a conhecê-los pessoalmente. Mas houve uma história que me fez deixar de ler definitivamente um certo autor. Trabalhava eu então no escritório que organizava a presença de Portugal como país convidado da Feira Internacional do Livro de Frankfurt em 1997 quando fomos informados de que o poeta Al Berto (um dos convidados) tinha morrido. Pois no meio de uma consternação que durou semanas, se não meses, chegou uma carta de um escritor que não fora escolhido para ir à Alemanha, dizendo – vejam só – que, como Al Berto já não se poderia deslocar ao certame, ele próprio estava disponível para o substituir. Ficou em Portugal, bem entendido.