Todos temos números de que gostamos mais sem saber porquê – e, aqui para nós, eu sempre gostei do 3. O meu preferido é, porém, o 9, mas, no íntimo, sei que o escolhi apenas por ser o resultado de 3 x 3. Pois bem, o meu terceiro livro na Leya acaba de ser publicado e estou convencida de que vai ser um sucesso. Não só por ser o terceiro, evidentemente, mas por ser bom, muito bom; não só por ser muito bom, mas por ser ao mesmo tempo grande literatura e de uma enorme legibilidade (estou cansada de dizer que o autor é o nosso mestre dos diálogos, habitualmente tão chochos na literatura portuguesa, e este seu romance é mais uma confirmação disso). Nem preciso de vo-lo recomendar, porque, ainda antes de o livro estar cá fora, já todos os jornais o recomendaram. E fizeram muito bem, porque quem o ler terá, garantidamente, algumas horas extraordinárias. Chama-se O Bom Inverno e foi escrito por João Tordo, um dos novos casos sérios das nossas letras, que venceu o Prémio Literário José Saramago com o romance anterior, o seu terceiro romance, intitulado As Três Vidas (lá anda o número 3 a perseguir-me). Está nas livrarias desde sábado passado e será apresentado publicamente no dia 16 de Setembro por Pilar del Río, viúva do Nobel português. Se depois de um Verão quente quer um bom Inverno, já sabe.
Estou de volta das minhas horas extraordinárias de descanso e leitura. Foram três semanas de férias interrompidas por uma semana de trabalho (a terceira de Agosto) e um mês inteirinho sem blogue, descontando um post que escrevi no dia 19, tão contente estava por ter conseguido devorar mil e tal páginas em quinze dias. E, embora tenha levado comigo alguns originais que aguardavam leitura na minha secretária (e isso, claro, também é trabalho), a verdade é que há muitos anos não tinha a sensação de ter estado tantos dias longe das actividades profissionais sem me sentir culpada. Claro que nesta última semana não foi possível manter a média. O Manel e eu fomos de férias com as nossas mães (duas adoráveis senhoras com mais de oitenta e cinco anos) e, embora elas não façam exigências, nós exigimos passar tempo com elas e, muitas vezes, preferimos ouvi-las a ler (até porque livros teremos sempre, e mães não). De qualquer modo, no meu caso, foram mais umas duzentas e cinquenta páginas (duas novelas, uma não publicada); no caso do Manel, a média desceu imenso esta semana, mas estou convencida de que a culpa foi mais das sestas do que das nossas senhoras. E pronto, agora é olhar para a frente e ser de novo editora a tempo inteiro, que mil coisas me esperam na secretária da Leya. E, evidentemente, dar conta das minhas leituras de Verão aqui mesmo, já esta semana.
Vim a Lisboa no meio de Agosto para acabar coisas urgentes e parto de novo dentro de dias para terminar as minhas férias de Verão. Férias, para quem trabalha fundamentalmente a ler, talvez devesse querer dizer descansar da leitura. Porém, nada mais falso. Além dos jornais diários – mais folheados do que lidos, é certo (até porque na silly season, descontando os incêndios e as intrigas à volta de uma mulher morta no Brasil, os jornais não trazem nada que se leia) – reparei, no regresso, que tinha lido mais de mil páginas. E nem se pense que deixei de apanhar sol, tomar banhos de piscina, passear ou faltar a encontros com amigos por causa disso. Se considerarmos as estatísticas, a média é seguramente muito boa, mas a verdade é que não estou satisfeita. E porquê? Ora, porque foram apenas três romances (um ainda não publicado) e há tantos outros na fila, aguardando, que não sei quando poderei ler... Em todo o caso, isto fez-me pensar no número de livros que leio anualmente e que, entre originais e obras editadas, devem somar milhares de páginas. Será que desequilibro as estatísticas da leitura ou, pelo contrário, ajudo a compô-las? No fim do mês, talvez já tenha resposta para isto (e, quem sabe, mais um romance lido).