Toma e embrulha
Quando comecei na edição, quase todas as capas eram tristes, mesmo as bonitas. (Talvez os portugueses sejam um pouco murchos, e o seu carácter acabe por se reflectir no que fazem em termos criativos.) Havia muito menos editoras – e as suas colecções não raro eram embrulhadas em tons de castanho, azul-pardo e cinzento – pouco apetecíveis, em suma. Chegada a globalização, as coisas inverteram-se, o que, por um lado, foi extremamente positivo, mas, por outro, gerou situações em que o embrulho não corresponde ao presente que tem dentro e, em casos extremos, em que o embrulho ainda vem embrulhado em sacos de gaze e caixas de plástico – como se o invólucro contasse mais do que tudo o resto. Enfim, o mercado mudou e os clientes precisam de ser atraídos... e temos de viver com esta realidade, gostemos dela ou não. Em todo o caso, há muitos bons artistas gráficos a quem podemos dizer «Toma e embrulha» e fazem capas belíssimas (e adequadas); e também editoras que têm linhas gráficas de extremo bom gosto e servem plenamente os objectivos de um livro, não o tornando menos vendável por causa disso. O problema é que o que sobra é uma amálgama tão indiferenciada que, ao entrar numa livraria, quem não seja um leitor habitual se arrisca a não perceber mesmo que livro comprar...