Envelhecer
Sinto-me um bocado bota-de-elástico ao não querer perceber que a arte pode ser uma coisa que – sinceramente – eu preferia que não fosse. Uma vez, um senhor que estimo bastante e que tem cultura e bom gosto, disse-me que hoje já não havia arte, apenas instalações; e, conquanto eu tenha então achado que estava diante de um bota-de-elástico (até porque há instalações formidáveis), talvez hoje o tenha finalmente compreendido. É que, num jornal de referência, vejo dedicarem uma página inteira cheia de encómios a uma exposição de escultura. Mas, na fotografia que encima o texto, observo apenas paredes brancas, nas quais estão pendurados auscultadores, e uma cadeira banal à frente. A proposta é que o visitante se sente, coloque as «bandeletes» e fique à escuta. Bem, eu não sei o que dizem lá do outro lado – e até admito que possa ser «arte» (imaginemos que nos atiram com bela literatura); o que entendo menos bem é que isto seja uma exposição de «escultura», ainda por cima classificada com cinco estrelas, pois eu não vejo lá nenhuma peça escultural da autoria do escultor (acho que as cadeiras podiam ser do Ikea). Mas, pronto, devo ser eu que estou a envelhecer, e não tardará muito a que fique azeda e a começar as frases todas por «No meu tempo». Avisem-me, por favor, se isso começar a acontecer…
P.S. Se alguém tiver ido ver a exposição e me puder dizer o que sopram os fones, avance, porque posso estar a ser injusta, mas não estou com muita vontade de lá ir.