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Horas Extraordinárias

As horas que passamos a ler.

31
Jul12

Fechado para férias

Maria do Rosário Pedreira

Amanhã é dia 1 de Agosto – e tomara que o tempo ajude, pois preciso de sol, de descanso e, sobretudo, de não pensar durante as próximas semanas no trabalho ou na situação do mercado do livro. Conto ler bastante, evidentemente, mas não originais para publicação nem provas tipográficas de livros para publicar. Neste período, sou sincera, aproveito para espreitar o que os meus colegas puseram à venda – e bem assim alguns títulos que me escaparam por qualquer razão (muito provavelmente, falta de tempo) mas que são mais ou menos obrigatórios para todos aqueles que se orgulham de ler todos os dias. Para estas serem, porém, verdadeiras férias, tenho mesmo de fechar a loja – não é, já se vê, a altura ideal para fazer Horas Extraordinárias – e, assim, informo que o blogue fica encerrado até final de Agosto. Em Setembro, se tudo correr bem, regressarei ao ritmo de sempre e prometo trazer muitas sugestões a partir das leituras feitas. Espero que não se esqueçam de regressar também. E, se forem para férias, como eu, umas boas férias! Se ficarem, bom trabalho e boas leituras!

30
Jul12

Works in progress

Maria do Rosário Pedreira

Hoje é o meu primeiro dia de férias e, embora Agosto não seja um mês em que se publiquem muitos livros, tive de deixar adiantadas quatro obras que sairão no próximo mês ou nos primeiros dias de Setembro. São quatro livros muito diferentes – e, provavelmente, também para leitores com gostos distintos. O primeiro a ir para as livrarias é Triângulo, de Pedro Garcia Rosado, o terceiro thriller da série «Não Matarás», que desta feita leva o inspector da Judiciária Joel Franco à descoberta dos culpados de um crime a que assistiu na infância. Depois, mais ou menos ao mesmo tempo, serão publicados O Rei do Monte Brasil, de Ana Cristina Silva – um romance que apresenta as duas versões do conflito entre Mouzinho de Albuquerque e Gungunhana – e O Feitiço da Índia, de Miguel Real, sobre o poder encantatório de Goa e das suas mulheres para três portugueses de três épocas marcantes. Por último, já no início de Setembro, ficará disponível o romance do estreante Bruno Margo, com o sugestivo título Sandokan & Bakunine, uma obra francamente original, com uma estrutura que lembra filmes como Magnólia e tem como protagonista um adolescente asmático e apaixonado. Deixo a produção das obras in progress e espero encontrá-las prontas no regresso, quiçá uma ou outra já à venda, já lida, já apreciada. Fiquem atentos.

 

27
Jul12

Fascículos

Maria do Rosário Pedreira

Alguns grandes nomes da literatura, como Charles Dickens, começaram a escrever para jornais folhetins que ficavam interrompidos numa semana e eram retomados na seguinte, suscitando grande curiosidade por parte dos leitores. O hábito dos fascículos perdeu-se (embora Rui Cardoso Martins alimente semanalmente no Público uma destas narrativas), mas eis que, em tempo de crise, o Expresso teve a bela ideia de fornecer aos caderninhos a História de Portugal mais completa que recentemente se publicou num só volume, assinada por Rui Ramos (coordenador), Nuno Gonçalo Monteiro e Bernardo Vasconcelos e Sousa. A obra era cara na edição original – sobretudo em época de dificuldades – e, por isso, é uma boa notícia que o semanário decida agora oferecê-la, até porque os conhecimentos dos portugueses sobre a história do seu país andam um bocado por baixo (como se depreende dos questionários feitos à porta das universidades a alunos finalistas, cujas respostas são de bradar aos céus). Além disso, se um livro volumoso nem sempre torna a leitura confortável, muitos levezinhos e de cerca de cem páginas tornam-se realmente um convite a ler, e não só a consultar. Se, por acaso, ainda não tem esta História de Portugal e é leitor do Expresso, guarde-a aos bochechos.

26
Jul12

Ler na cama

Maria do Rosário Pedreira

 Não sei se se lembram de que há uns anos espalharam um cartaz por várias cidades europeias que deu que falar. Era uma campanha que visava promover o turismo na Polónia e tinha como chamariz um belo representante do sexo masculino – que ficaria conhecido como «o canalizador polaco». Pois parece que o apelo sexual não serve só para promover as bonitas paisagens e o património das cidades daquele país. Inspirando-se talvez num romance do país vizinho (O Leitor, de Bernard Schlink, no qual a ex-guarda de um campo de concentração, analfabeta, pede ao jovem amante que lhe leia em voz alta), a Polónia lança agora mais uma campanha bastante chamativa: duas raparigas loiras e picantes, seminuas, estão de livro aberto sobre a cama e ameaçam: «Se não leres, não vou para a cama contigo.» (Ver link abaixo.) Portanto, às raparigas que se desloquem à Polónia em busca dos canalizadores giros e robustos, divisam-se umas férias nada intelectuais; enquanto aos rapazes (incluindo os locais) é exigido que leiam qualquer coisita para terem direito a uma noite de sonho. Não é que eu goste muito de ler na cama, mas até para o sexo parece, afinal, que a cultura faz falta. Talvez o Relvas tenha forjado o diploma que se sabe para não perder pitada das loiras...

 

http://libreriamichelena.blogspot.pt/2011/12/si-usted-no-lee-no-me-voy-con-usted-la.html

25
Jul12

Chevalier no feminino

Maria do Rosário Pedreira

Já aqui falei de O Retorno, de Dulce Maria Cardoso, o último romance que publicou, que fala sobre a experiência de uma família de retornados vindos na ponte aérea que pôs em Portugal em poucos meses meio milhão de pessoas com uma mão à frente e outra atrás. Mas ela é a autora de outros livros notáveis – penso que também já aqui escrevi sobre O Chão dos Pardais – e recebeu o Prémio da União Europeia por Os Meus Sentimentos (para muitos, a sua melhor obra), o que, para um escritor português, é um feito raro. Pois a França decidiu agora atribuir-lhe uma condecoração, a de Chevalier des Arts et des Lettres, de que deve orgulhar-se a escritora e de que devemos orgulhar-nos nós, pois nem sempre a literatura portuguesa consegue atravessar as fronteiras e ser reconhecida no estrangeiro. Parabéns, pois, a Dulce Maria Cardoso, que esperamos continue a criar com a qualidade e o talento a que nos tem habituado.

24
Jul12

Ver e ler

Maria do Rosário Pedreira

Já chegou a Portugal o fenómeno de vendas internacional As Cinquenta Sombras de Grey, de E. L. James (uma mulher está por detrás destas iniciais), que promete subir vertiginosamente aos primeiros lugares dos Top das livrarias. Tanto quanto me disseram, o livro apareceu primeiro na Internet e foi um tal sucesso que uma grande editora americana comprou os direitos e, a partir daí, foi sempre a facturar. Parece que o livro é pornográfico (mas, para muitos americanos, há muita coisa pornográfica que na Europa seria apenas erótica), e a autora, numa entrevista publicada, creio eu, no Expresso, disse que não gostaria que os filhos o lessem (presumo que pela idade, pois de contrário parece-me uma afirmação um bocadinho sonsa e hipócrita). De qualquer modo, interessa-me perceber por que diabo um livro deste tipo se vende às catadupas – será porque o sexo, apesar de estarmos em pleno século XXI, continua a ser um tabu e as fantasias sexuais destas personagens (uma estudante de literatura e um empresário de sucesso, o tal Grey do título) darão ideias a muita gente, especialmente se as suas relações andarem estagnadas a nível físico? Há muitos anos, li num jornal que os homens se excitavam a ver revistas ou filmes pornográficos, enquanto às mulheres isso acontecia através da leitura de cenas de sexo. Serão então as mulheres as grandes compradoras deste livro (e dos outros dois, pois trata-se de uma trilogia)? Talvez pudesse encontrar a resposta lendo eu própria o livro, mas há tantos mais interessantes em lista de espera...

23
Jul12

Amabilidade

Maria do Rosário Pedreira

Uma das vantagens de acompanhar os autores em sessões de lançamento dos seus livros pelo País fora é visitar outras livrarias – algumas bem bonitas e bem fornecidas – e conhecer gente interessante da região. Recentemente, estive com João Ricardo Pedro na Livraria Centésima Página, em Braga, num local maravilhoso, para uma acção dedicada ao romance que escreveu, e fomos ambos brindados, tal como o público presente, por uma abordagem francamente original sobre as mãos (sim, leram bem) em O Teu Rosto Será O Último, feita pelo professor Eduardo Madureira. Mas, além desse já excelente presente, o professor, director de uma colecção de obras dedicadas à cidade de Braga («Braga Cidade Bimilenar», da Fundação Bracara Augusta), ofereceu-nos ainda dois dos seus volumes, pérolas de um bom gosto extraordinário e muito curiosas. O primeiro era um diário gráfico da autoria de Eduardo Salavisa, um roteiro da cidade através de desenhos lindíssimos; o segundo, uma colecção de rótulos das marcas de sabonetes e outros produtos da fábrica Confiança, muitos dos quais ainda me lembro de ver em casa dos meus pais, impressos com uma qualidade que é raro encontrar em livrinhos desta natureza. Uns quinze dias depois, fomos de novo apresentar o livro, desta feita em Leiria, na Arquivo (que é uma livraria excelente e com responsáveis muito interessantes e calorosos) com o João Rebocho Pais (autor de O Intrínseco de Manolo) e recebemos os três outros presentes, entre vinho e T-shirts literárias, produzidos pelos mesmos proprietários da livraria. Não são obviamente estas prendas que importam, mas elas são uma prova da amabilidade daqueles que nos recebem nas suas livrarias. Obrigada a todos os que fazem muito pelos nossos livros e ainda por cima nos mimam desta maneira.

20
Jul12

Bibliotecas curiosas

Maria do Rosário Pedreira

A Madalena, que é uma jovem de pouco mais de 25 anos que trabalha comigo e anda sempre em cima do acontecimento no que toca a novidades editoriais, falou-me há dias de Zoran Živković, um escritor nascido em 1948 no território que é hoje a Sérvia. Como ainda nunca tinha lido nada deste autor, ela emprestou-me um livro de contos publicado pela Cavalo de Ferro em Portugal, que se intitula A Biblioteca e ganhou em 2003 o World Fantasy Award. Não se assustem com a palavra «fantasy» aqueles que (se calhar, como eu) não se sentem minimamente atraídos por um género que associam a mundos de fadas, elfos, brumas ou Atlântidas; aqui o termo tem mais que ver com o irreal e o absurdo do que propriamente com sagas melífluas ou saudosistas de Avalon, e o assunto – as bibliotecas – interessa de certeza aos leitores deste blogue. Pois a verdade é que este livrinho é uma preciosidade e os seus textos, que podem ser lidos num serão, são bastante devedores de Borges ou Kafka – e todos fantásticos, mas numa outra acepção da palavra, desde aquele em que um autor encontra na Internet a sua bibliografia que ainda não escreveu até àquele em que se revê o cenário clássico do Inferno católico, dando-lhe a forma de uma biblioteca na qual os «degredados» terão de ler livros como castigo pelos seus pecados – e, claro, nem pensar em policiais para os criminosos... Numa prosa fresca e intrigas bem apanhadas, a garantia de umas horas bem passadas em bibliotecas de vários tipos. Obrigada, Madalena, fico a dever-lhe mais esta.

19
Jul12

Olhar para trás

Maria do Rosário Pedreira

O Manel é um grande fã de Patrick Modiano, mas eu nunca tinha lido nenhum livro deste autor que uma publicação em França disse ser o melhor escritor francês depois de Proust. Não conheço a literatura francesa assim tão bem – quase todos os anos, pela rentrée, saem mais de 500 novos romances e é difícil estar a par –, mas, depois de ter lido a novela Horizonte, até posso perceber a comparação estabelecida com o autor da Recherche, uma vez que também aqui (e, ao que parece, em toda a obra de Modiano) se trabalha sobre a memória e as memórias, que são, afinal, o que liga (quando liga) as várias pontas de uma história. O mais invulgar é que, neste livro, são as coisas aparentemente secundárias e laterais na vida do homem que recorda – um rosto numa esquina, uma fachada de um prédio, uma estação de metro – que remetem para o que ele não esquece – no caso, Margaret Le Coz, uma rapariga com um drama pendente, que namorou uns tempos com ele, mas de repente teve medo e desapareceu sem deixar rasto. E, embora não fiquemos nunca exactamente a saber se o drama de Margaret se compôs, reconhecemos que há coisas pelas quais vale a pena olhar para trás e, quiçá também, seguir em frente. Um livro curioso.

18
Jul12

Influências

Maria do Rosário Pedreira

Não sabemos até que ponto um escritor (ou a sua obra) é influente; mas nós, que somos todos leitores fiéis, sabemos que alguns livros fizeram claramente a diferença nas nossas vidas, falaram-nos ao ouvido, magoaram-nos, operaram-nos o cérebro, disseram-nos coisas que nunca mais esquecemos. Este ano, como de há alguns para cá, a revista «Única» do jornal Expresso publicou um número dedicado às 100 pessoas mais influentes de Portugal. Claro que Balsemão não escapou – ao patrão convém agradar – e, pelos vistos, não lhe chegou ganhar um Globo de Ouro na sua própria televisão. Mas adiante: desta feita, os seleccionados nas letras foram – e muito bem – Dulce Maria Cardoso, Valter Hugo Mãe (sobretudo pelo sucesso que atingiu no Brasil no ano passado, autografando mais de 400 exemplares numa tarde) e João Ricardo Pedro, um estreante que se tornou nas televisões um exemplo de perseverança, mas que – para lá da história que o mediatizou – tem um dos melhores primeiros romances há muito publicados em Portugal, O Teu Rosto Será o Último, e um sentido de humor muito especial – como, aliás, sabe quem ouviu o discurso de agradecimento na sessão de entrega do Prémio LeYa (e que foi uma boa «réplica» a Passos Coelho). Não sei se estes três nomes (não falei de Eduardo Lourenço porque, creio, está lá há muitos anos – e é assim mesmo que deve ser) influenciarão realmente os seus leitores; o que sei é que as suas obras podem deixar essa marca que não desaparece com o tempo e fazer deles os grandes escritores do futuro.

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